Título de Doutora Honoris Causa é concedido pela Uefs em reconhecimento à luta de liderança negra
Esta é a quarta vez que a Uefs outorga o título de Doutor(a) Honoris Causa, o primeiro a ser concedido a uma mulher e o primeiro a ser entregue a uma pessoa da raça negra. A honraria é concedida por universidades a cidadãos que já são respeitados pela sociedade, devido ao trabalho que desenvolvem, mas nem sempre têm graduação ou especialização. Justamente por este motivo, o termo que dá nome ao título significa ”por causa de honra” em latim.
A reitora da Uefs, professora Amali Mussi, destacou o evento como uma data histórica, lembrando o quanto é significativo conceder este título a uma mulher negra. ”Hoje é um dia convite para reverenciar aquelas que vieram antes, aquelas que teceram princípios de direitos sociais e que são referências de articuladas e revolucionárias práticas políticas. Uma data convite para reforçar as práticas antirracistas, tanto nas interrelações quanto nos campos profissionais, movimentos sociais e coletivos. É um convite para que a sociedade não esqueça da força política que é a existência das mulheres negras nesse território diaspórico, premiado por heranças vivas do coronelismo que é o Brasil. A presença de um corpo feminino é por si só expressão de rupturas e Ivannide representa tudo isso”, afirmou.
Num discurso emocionado, a recém doutora afirmou que receber o título é mais do que importante, é transcendental. “Significa que os nossos e nossas predecessoras e predecessores terão referência positiva negra. Ele não fala só de mim. ele fala através de mim por todas e todos nós guerreiros e guerreiras das diversas lutas. Demos as mãos para modificar a cara desse país. Estou muito feliz em receber essa homenagem da Uefs, aqui dentro dela eu encontrei estímulo de grandes nomes, grandes personalidades, grandes pensadores, orientadores, professores que me estimularam e não me deixaram sair da luta”, lembrou Ivannide Santa Bárbara.
Para o secretário estadual de Justiça e Direitos Humanos, Felipe Freitas, que representou o governador Jerônimo Rodrigues no evento, ”essa não é só uma homenagem a Ivannide, mas uma grande aula pública de cidadania para toda a cidade de Feira de Santana, porque é o reconhecimento de uma trajetória comprometida com a luta por direitos humanos, com a luta contra o racismo, com a luta por liberdade e é também uma grande convocação a todos nós, para que a gente se engaje cada vez mais nessas causas que são tão nobres e reconheça os saberes populares. Que ela seja a primeira de muitas outras mulheres negras a serem reconhecidas por essa universidade das mais diferentes formas”.
Também participaram da mesa de honra do evento a vice-reitora da Uefs, professora Eva Carvalho, a pró-reitora de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis da Uefs, professora Sandra Nívia Soares, o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Ângelo Almeida, a representante do Núcleo de Estudantes Negras e Negros da Uefs (NENNUEFS), Urânia Santa Bárbara, e a professora Ana Maria Carvalho, membro do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas da Uefs (Neabi/Uefs).
A homenagem de Ivannide Santa Bárbara foi aprovada pelo Conselho Universitário (Consu), após proposição do Departamento de Ciências Humanas e Filosofia, em conjunto com o Neabi/Uefs, Movimento Negro Unificado (MNU) e NENNUEFS.
Ivannide Rodrigues Santa Bárbara
Mulher de uma fé admirável, já experimentou vivências em algumas religiões como espírita, messiânica, católica e candomblé, sendo esta última ainda muito forte em sua vida. Ivannide nasceu em Feira de Santana e ainda muito jovem foi reconhecida como uma mulher ”à frente do seu tempo”, por encabeçar lutas e ensinamentos contra o machismo e a intolerância religiosa. No bairro Rua Nova, onde morou, conheceu de perto as dores de muitas mulheres e de uma população socialmente vulnerável. A partir disso foi se fortalecendo enquanto liderança popular.
Ivannide Santa Bárbara colaborou historicamente para a construção e fortalecimento dos movimentos sociais em Feira de Santana e, enquanto militante do Movimento Negro Unificado e da Frente Negra Feirense (FRENEFE), atuou de forma expressiva na implantação da Política de Ações Afirmativas da Uefs. A homenageada também é reconhecida como uma relevante difusora da cultura negra.
Se destaca ainda como militante e organizadora de movimentos como o de Mulheres Negras, Organização de Mulheres em Defesa da Cidadania (MONDEC), Movimento Negro Unificado (MNU) e Núcleo de Estudantes Negras e Negros da Uefs (NENNUEFS).