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(103) registro(s) encontrado(s) para a busca: Por Rafael VelamePERSONAGENS DE FEIRA: O escritor feirense que descobriu o talento no WhatsApp
Por Rafael Velame
As crônicas dele deveriam ser leitura obrigatória para quem quer entender Feira de Santana de verdade. Alan de Sá, feirense formado em jornalismo, é uma promessa da literatura. Criado no Parque Lagoa Subaé, bairro pobre onde a realidade bateu na porta logo cedo, viu conhecidos morrendo por causa do tráfico. Uma realidade que moldou a sua visão de mundo. Talvez por isso, seus textos sejam marcados por excessos – de palavrão, de sarcasmo e de duras verdades. Do primeiro livro lido, somente aos 15 anos, até se descobrir escritor, por conta de um grupo de WhatsApp, aos 18, Alan sabe que seu destino poderia ter sido diferente. Viveu as dificuldades de ajudar a mãe que foi ambulante na Salles Barbosa e lá passou a conhecer pessoas, perceber trejeitos e ver como era o que ele chama de “feirense médio”. Vivências que virariam crônicas publicadas e muito compartilhadas no Facebook. Atualmente Alan trabalha em uma grande agência de publicidade em São Paulo e, apesar das dificuldades, já publicou “Marani”, seu primeiro romance e a obra de suspense e terror “Lago Aruá“. Paralelamente ele defende o movimento literário Sertão Punk, que você vai conhecer melhor na entrevista abaixo onde assuntos como racismo no meio literário e afrofuturismo também são abordados.
Quando surgiu o desejo de ser escritor? Como você se descobriu escritor?
Foi um processo meio estranho e demorado. Eu comecei lendo tarde, li meu primeiro livro na vida aos 15 anos, ainda no ECASSA. Me apaixonei pela leitura nessa época, mas a escrita em si veio anos depois, já com 19 pra 20 anos. Nessa época eu já tinha terminado o ensino médio e não estava arrumando emprego, então passava muito tempo em casa. Acabei entrando em um grupo de Whatsapp junto com uma galera de vários estados do Brasil e todo mundo curtia as mesmas coisas que eu: filmes, séries, animes, livros, etc. Resolvemos fazer uma brincadeira de criar personagens pra cada um do grupo. A galera curtiu e decidimos criar uma história com todos. Eu era um dos responsáveis por juntar todas as histórias em uma só. Acho que foi mais ou menos por aí.
Onde foi criado em Feira, como foi a infância?
Eu nasci em Feira de Santana, mas passei uma parte da minha infância em São Paulo, até os oito anos. Meus pais já tinham uma vida estabelecida na cidade. Minha mãe era costureira e meu pai, pintor. Eles usavam as economias, dinheiro de FGTS, férias, essas coisas, pra construir a casa em Feira. Quando voltamos, em 2003, já tava tudo mais ou menos pronto. Daí em diante vivi a maior parte da minha vida no Parque Lagoa Subaé.
A gente sempre foi pobre. Um pouco menos do que a grande maioria das pessoas pobres do Brasil, porque tínhamos nossa própria casa, minha mãe trabalhava com carteira assinada, meu pai tinha o emprego dele, mas nada nunca foi realmente fácil. Já passamos por vários apertos na vida, mas sempre estávamos ali um pelo outro, todo mundo se ajudava como podia e até hoje é assim. Por um tempo, o Parque Lagoa foi um bairro mais perigoso do que é hoje. Vi muitos pivetes morrerem cedo demais por causa de droga, facção, crime. Gente de 12, 15 anos, que nem tiveram tempo de mudar de caminho e ter alguma oportunidade, como eu tive. Isso moldou muito da minha visão de mundo, porque o pensamento coletivo ficou ainda mais forte na minha mente.
Eu sempre curti desenhar e isso era um passatempo massa pra mim. Depois de um tempo trabalhando como costureira, minha mãe comprou uma barraca na Salles Barbosa em 2007, que existia até o dito cujo do prefeito resolveu derrubar pra favorecer empresário mineiro e acabar com o sustento e a história de milhares de pessoas na cidade. Lá foi que comecei a aprender os caminhos do centro, conhecer pessoas, perceber trejeitos das pessoas e ver como era o “feirense médio”. Sempre que ficava com a coroa, e quando a gente conseguia vender alguma coisa, pegava uma parte da grana e juntava pra comprar materiais de desenho na Maskat e na banquinha de jornal em frente a Prefeitura. Isso me fez querer trabalhar com design por muitos anos. Acabei fazendo Jornalismo na FAT. Coisas da vida, né. Mas não me arrependo de maneira alguma.
Fiz o final do fundamental 1 no Luciano Ribeiro Santos, uma escola municipal lá no Parque Lagoa mesmo. Depois, fui pro ECASSA, onde fiquei até o fim do ensino médio. Quando entrei, Artemízia ainda era a diretora, botava medo até na galera do terceirão. Foi lá também que fiz meus melhores amigos, que estão comigo há anos e já são parte da família, verdadeiros irmãos que ganhei com a vida, mesmo tendo, também, meus irmãos de família. Bati muito de frente com Lúcia Branco, diretora da escola, por conta de várias e várias situações de descaso da gestão da escola com o próprio patrimônio e a educação. Já fiz abaixo assinado pra tirar ela de lá, brigamos muito e, até a última vez que fui lá (em 2018, não lembro), ela sequer olhava na minha cara direito. Ainda bem.
Por que foi pra São Paulo?
Eu trabalhava com publicidade numa agência de Feira, tinha acabado de terminar a faculdade. Não tinha muitas pretensões de sair, porque, bem ou mal, eu gosto de Feira. Mas aí uma vizinha viu uma publicação de um processo seletivo pra jovens criativos de uma agência de São Paulo, a Wieden+Kennedy. Até então, não conhecia nada da agência, mas depois descobri que se tratava de uma das maiores e mais relevantes do mundo, responsável por várias campanhas icônicas pra Nike. Resolvi tentar. Depois de um mês de processo seletivo, fui um dos selecionados pro programa. Além de mim, mais duas pessoas da Bahia entraram: Caíque, fotógrafo de Madre de Deus; e Larissa, estudante de jornalismo da UFBA, mas que é natural de Uruçuca. No total foram seis: tinham mais duas pessoas de Brasília (Lara, publicitária; Luiz, fotógrafo e diretor de arte) e Taís, ilustradora de São Luiz, no Maranhão.
A gente passou nove meses trabalhando na Wieden+Kennedy, aprendendo sobre publicidade e fazendo projetos internos, enquanto morávamos num hostel. Foi um período bem intenso, com vários altos e baixos pelo caminho. Foi durante esse período que vi o quanto o mercado aqui era mais organizado que Feira, além das oportunidades de crescimento serem maiores. Resolvi ficar pra ter uma grana a mais e poder ajudar meus pais. Hoje, trabalho em outra agência, FCB Brasil, que também é uma empresa global e bem grande na área. No fim das contas, deu tudo certo.
O que é o Sertãopunk?
O sertãopunk é uma ideia. É mais fácil começar por aí. Uma ideia de como o Nordeste pode ser no futuro a partir de um ponto de vista nordestino. O sertãopunk começou depois de mim e mais dois amigos, Alec Silva e Gabriele Diniz, que também são escritores negros e nordestinos, levantarmos alguns questionamentos sobre como o a cultura da região era representada nas produções de ficção, fossem elas livros, filmes, séries, artes visuais, etc. Porque sempre o nordestino como, ou cangaceiro, ou matuto? Por que a estética da seca sempre atrelada ao Nordeste? Foi a partir de questionamentos assim que a gente começou a pensar no sertãopunk.
A gente tem uma região rica em biodiversidade, produção de energia limpa, com polos de tecnologia e geração de renda bem estabelecidos, a única baía inteiramente navegável do mundo (a Baía de Todos os Santos), alguns dos maiores portos do Brasil, fora toda a diversidade cultural, mais de 1900 territórios quilombolas, centenas de tribos indígenas e presença constante nas maiores e mais relevantes revoltas populares da história do Brasil. O Nordeste não é só o carnaval de Salvador, seca e Lampião.
Foi pra isso que pensamos o sertãopunk, pra ser uma ideia pra todo mundo que quer se expressar contra esses estereótipos e xenofobia construídos historicamente. Através de qualquer tipo de arte: música, grafite, literatura, o que for. A partir daí, dar uma nova cara pras possibilidades de Nordeste no futuro.
Quais livros já publicou?
Publiquei Marani, meu primeiro e único romance, até então, em 2017. Em 2019 lancei O Lago Aruá via financiamento coletivo pelo Catarse, mas esse é menor, entre um conto e uma novela. Entre esses dois eu participei de alguns projetos coletivos com autores de vários estados do Brasil, além de colocar coisas avulsas na Amazon, no total. No total, são umas 10, 12 publicações. Meu último lançamento foi Abrakadabra, em 2020, direto na Amazon e já dentro da estética do sertãopunk. Além, é claro, da coletânea Sertãopunk: histórias de um Nordeste do amanhã, que traz o manifesto do movimento, além de artigos sobre pontos relevantes sobre o que a gente pensou e dois contos, um meu (Schinzophrenia) e o outro de Gabriele Diniz (Os olhos dos cajueiros), co-criadora do sertãopunk.
É difícil chegar até uma editora e publicar seu primeiro livro?
Existem diversos formatos de editoras por aí. Muitas usam um sistema de “pague pra publicar”, em que o autor paga por todo o processo editorial mais uma quantidade de livros, os caras fazem um trabalho meia-boca e depois somem, colocam o livro no site deles, nunca trabalham publicitariamente a obra, te fazem assinar um contrato criminoso e tu nunca vê a cor do dinheiro pelo teu trampo.
E tem as editoras tradicionais. Essas, sim, são difíceis de acessar, porque elas possuem um processo editorial mais sério e não costumam apostar em autores iniciantes de cara, justamente por ser dela todos os custos de produção e divulgação da obra, além de bancarem um adiantamento dos direitos autorais pro autor. Pra chegar nessas, das duas uma: ou tu é branco (se for do Sul ou de São Paulo, melhor ainda); ou é muito, muito bom.
Como foi o processo de criação do Lago Aruá?
O Lago veio depois de uma viagem que fiz com minha ex-namorada. Ela é de Salvador e a gente nunca tinha feito uma viagem junto. Uns amigos dela resolveram passar um final de semana numa casa na Lagoa do Aruá, na Reserva de Sapiranga, em Mata de São João. Resolvi ir com eles. Durante uns dois dias, algumas coisas meio bizarras aconteceram. Vi alí uma oportunidade de fazer uma história de terror a partir de um ponto de vista mais cru, que era o meu. Daí nasceu O Lago Aruá.
Você se define um escritor de que tipo?
Eu gosto de escrever tipos diferentes de literatura. Tem minhas crônicas, que geralmente tem um formato mais engraçado e que eu falo mais da cidade e das pessoas. E meus contos, que quase sempre são de terror e suspense.
Pro primeiro tipo de texto, eu sempre tento pensar “o que as pessoas fazem que ninguém percebe, mas que pode ser bom o suficiente pra virar um texto?” antes de escrever. Feira tem gente de todo tipo e isso é ótimo. Quanto mais diferente são as pessoas, mais fácil é de dar uma exagerada nas coisas e criar uma veia bem-humorada. Eu já fiz crônicas sobre o BRT, o velho do licuri e por aí vai.
Com os contos eu já tenho outra pegada. Acho que a literatura de terror tem um poder de sintetizar coisas muito relevantes e gerar um outro tipo de impacto sobre as pessoas. Por exemplo: O Lago Aruá fala de uma viagem de fim de semana, mas também fala sobre preconceito religioso, racismo, relacionamentos conturbados, descaso com o meio ambiente e por aí vai. Abrakadabra é sobre uma experiência em realidade virtual, mas também fala sobre as dores que corpos negros carregam, a criação do estereótipo de incapacidade sobre pessoas com deficiências e outras coisas. Então eu tento pegar todas as porcarias que rodeiam a gente e mostrar isso de uma forma que vai impactar a galera, nem que seja pelo susto ou pelo medo.
Feira de Santana te inspira de alguma forma em suas obras? Seja positiva ou negativa….
Sim, com certeza. Pra ambas. Eu gosto de Feira de Santana, por ser uma cidade com gente de todo o canto, em que a cultura popular tem uma força enorme na fundação do tipo feirense e por aí vai. O que eu não gosto é de quem gere a cidade, desses coronéis de meia-tigela que tratam Feira como se fossem a casa deles. Você sabe de quem eu tô falando. A experiência negativa vem daí: da violência que desgraça a cidade, a falta de estrutura social, saúde e educação públicas de qualidade, entre outros vários problemas. Isso também me inspira porque não posso deixar os problemas da cidade alheios ao que eu faço.
Quando a gente, que produz algum tipo de arte, seja literatura, música, artes visuais, o que for, não aponta as doenças sociais, estamos negando que elas existem. Não tem essa de “arte sem politicagem”, a arte é política e o ser humano é um ser político. Política não é só partidária. Se não contextualizamos as coisas e mostramos os erros da sociedade, somos coniventes. Isso legitima que isso continue acontecendo.
Existe racismo na literatura brasileira? Você já sentiu isso na pele?
O racismo brasileiro é estrutural. Ele sempre vai estar presente em qualquer lugar porque a nossa sociedade foi fundamentada assim, com racismo. O meio literário não é diferente. No meu caso, principalmente depois que começamos a trabalhar no sertãopunk, houveram situações que não só minhas falas, quanto as de Alec e Gabriele, que são também negros, foram desvalorizadas e apagadas por pessoas brancas. De forma intencional.
Uma das bases pro sertãopunk é o afrofuturismo, justamente porque a gente entende o peso que a cultura africana teve na história do Nordeste, não só por sermos negros, também. O fato de três negros e nordestinos questionarem várias atitudes do próprio mercado editorial, como nós fizemos – mercado esse que é inundado de pessoas brancas, bem de vida e, na grande maioria, do Sul e do Sudeste – gerou um incômodo no mercado e algumas inimizades que nos perseguem até hoje.
Mas é aquela coisa, né: se gente ruim não gosta do que eu falo ou faço, eu fico feliz.
É mais difícil ser reconhecido como escritor de sucesso sendo nordestino, de Feira de Santana?
É difícil ser escritor num todo, porque o mercado é uma bagunça daquelas. Quando a gente vai colocando as camadas minoritárias e sociais no jogo, vai ficando pior. Ser escritor, do interior do nordeste, pobre e negro é complicado. Mas se for uma mina nas mesmas condições, é ainda mais. Se for indígena, quilombola, ribeirinho, também. Por aí vai. Pra quem tá de fora pode até pensar que é “lacração” desnecessária ou exagero. Obviamente que existem, sim, grandes escritores nordestinos, negros e mulheres, também. Mas nessas horas, a gente tem que pensar no todo: qual a cor das pessoas que comandam as editoras, que editam as histórias, que trabalham com a divulgação delas e que fazem resenhas, reviews e por aí vai? Como funciona esses processos até chegar em uma editora ou no mercado?
Quando tu tá no jogo, vê que muita gente (muita gente mesmo) entra no mercado sem qualquer mérito. Escrevendo mal, com posicionamentos questionáveis, mas que tá ali porque é amigo de não sei quem, parente de fulano, estudou na mesma faculdade que sicrano, etc. A a paleta de cores dessa brincadeira aí é branca. Hoje, não sinto tanto isso porque já tô mais estabelecido (e, curiosamente, a maior parte dos meus leitores são de fora do Nordeste). Mas, pra quem tá começando, é, sim, complicado.
Acho que Feira de Santana tem um potencial de contação de histórias enorme. A gente tem história e tradição na literatura de cordel. Uma das primeiras coisas que li, antes do meu primeiro livro, foi um cordel, sobre Lucas da Feira, escrito por Franklin Machado, que tá em minha casa em Feira até hoje. O que falta é a própria cidade começar a olhar com mais atenção pra quem produz cultura em casa.
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A falta de critério da vacinação em Feira de Santana
Participação do jornalista Rafael Velame no programa Transnotícias, na rádio TransBrasil de Feira de Santana.
Secretário de Saúde diz que repreendeu envolvidos em evento de vacinação no HGCA
A primeira dose da coronavac aplicada em Feira de Santana ainda segue rendendo polêmica. No programa Transnotícias desta segunda-feira (25), o Secretário Estadual de Saúde, Fábio Villas Boas, criticou os organizadores do evento que aconteceu no Hospital Geral Cleriston Andrade (HGCA) que vacinou contra a Covid-19 uma enfermeira da unidade. Ele classificou o episódio como lamentável e disse que não deveria ter acontecido. “Lamento esse evento que aconteceu da vacina, na profissional do Cleriston Andrade, antes da vacina que estava anunciada pelo prefeito que não foi com a minha condescendência, não autorizei e não estimulei e já repreendi todos envolvidos nesse lamentável fato”, revelou. O evento foi organizado pelo coordenador do Núcleo Regional de Saúde, Edyr Gomes, e os convites ficaram a cargo da assessoria do deputado federal Zé Neto (PT), que transmitiu a aplicação nas redes sociais. Fábio relatou ainda que não procede a informação dada por Zé Neto (PT) à produção do programa, que existe má comunicação entre a Sesab e a Prefeitura de Feira. Segundo ele, nunca existiu má comunicação e confirmou que mantém uma ótima relação com o prefeito Colbert. “Sempre fomos médicos, amigos, o novo secretário é uma pessoa que conheço há bastante tempo, já trabalhou comigo, não há dificuldade de comunicação com a prefeitura”, relatou.
Ouça o que disse o secretário @fabiovboas sobre o episódio da vacinação que aconteceu no Hospital Cleriston Andrade em Feira de Santana. pic.twitter.com/ElCvQnuovR
— Rafael Velame (@rafaelvelame) January 25, 2021
Caso de queda de ovni em Feira de Santana completa 26 anos
O relato de um fazendeiro e a carta de um militar tornam público o “Caso Feira de Santana”, segundo o Portal UFO, veículo usado para divulgar ações do Centro Brasileiro de Pesquisa de Discos Voadores (CBPDV). O caso revela que um objeto não identificado e dois supostos extraterrestres foram recolhidos por agentes da Marinha, em uma fazenda na zona rural de Feira de Santana, em 12 de janeiro de 1995. O jornalista Rafael Velame conta essa história com detalhes em um episódio do Podcast Para Quem Merece. Confira:
Fernando Torres diz que empresa contratada por ex-presidente recebe R$ 3 mil e paga R$ 800 para terceirizados
A Câmara de Vereadores de Feira de Santana, enfim, parece estar se conectando com a realidade da cidade. O novo presidente, o vereador Fernando Torres (PSD), convocou a imprensa nesta segunda-feira, 11, para anunciar medidas de austeridade durante o mandato dele. Torres comunicou que o reajuste o reajuste dos salários dos vereadores que estava previsto para acontecer no dia 1º de janeiro, será adiado para 2022. “Não é justo os vereadores, prefeito e secretários terem aumento de salários e os funcionários públicos não terem”, disse. Um vereador em Feira tem subsídio de R$ 15.030,00 (valor bruto), mesma quantia destinada ao vice-prefeito e secretários municipais. Com o reajuste, alcançaria agora em janeiro R$ 18.991,00. A medida também vai atingir os vencimentos do prefeito, vice-prefeito e secretários municipais. Todos continuarão a receber valores que estão em vigor desde 1 de janeiro de 2013. O presidente revelou ainda que, por economia, alguns cargos de confiança da Câmara só serão nomeados em fevereiro. “O adiamento do reajuste dos vereadores e essas medidas que estamos tomando devem gerar uma economia de mais ou menos um milhão de duzentos mil reais para a Câmara”. Na coletiva, o presidente citou reportagens do Blog do Velame que denunciaram gastos excessivos da Câmara com contratação de terceirizados e pagamentos de salários altíssimos (Clique AQUI e leia Os Marajás da Câmara de Feira). “Acompanhei as matérias que Rafael Velame fez e vou corrigir essa situação, na minha gestão todos esses contratos serão revistos. A Câmara paga R$ 3.000 para a empresa e o funcionário recebe R$ 800. Isso vai ser revisto. Sobre supersalários, ainda não encontrei funcionários com salário maior que vereador, mas se encontrar isso vai acabar”, garantiu. Fernando Torres se refere ao contrato da Câmara com a empresa Esfera Produção e Eventos, firmado durante a gestão do ex-presidente José Carneiro Rocha (MDB), onde é pago um valor médio de R$ 200 mil mensais. O contrato tem como objeto a contratação de servente, porteiro, garçom, auxiliar administrativo, jardineiro e eletricista. No encontro, também foi anunciado o nome do novo chefe da Ascom do legislativo, o radialista Marcos Valentim.
Ouça o Podcast Para Quem Merece
Como um grande projeto imobiliário se tornou um “elefante branco” em Feira de Santana
Por Rafael Velame
[email protected]
Elefante branco é uma expressão usada para ironizar algo que é valioso mas que não possui qualquer utilidade, tornando-se dispendioso e inútil. Quem passa pela avenida Getúlio Vargas, o metro quadrado mais caro de Feira de Santana, logo percebe um grande prédio vinho, espelhado, com colunas pastilhadas em tons de bege, que se encaixa perfeitamente na definição de “elefante branco“.
Atualmente abandonado, o empreendimento batizado de Amayo Apart Hotel foi projetado para ser um pomposo prédio. Com uma área de 20 mil metros quadrados foi lançado em 2008 e vendido como excelente investimento para diversos empresários e profissionais liberais da cidade, que acreditaram no projeto.
Mas o que seria um bom negócio, acabou virando um grande prejuízo. A entrega do prédio de 13 andares anunciada para o segundo semestre de 2011 foi adiada por diversas vezes e nunca aconteceu.
Por fora, a obra de responsabilidade das empresas OMR e Amayo Patrimonial parece estar concluída, entretanto os compradores do prédio – chamado por parte da imprensa de “o mais marcante e inovador empreendimento da área hoteleira feirense” – nunca receberam as chaves dos apartamentos comprados. Um comprador que não quis se identificar revelou ao blog que após muito insistir, teve devolvido o dinheiro que deu de entrada no empreendimento. “Aceitei receber em parcelas, apesar de ter pago 30% do valor do imóvel à vista, para não aumentar meu prejuízo. O real motivo para a entrega não acontecer nunca foi relevado a quem comprou”, contou.
Em abril de 2008, quando o empresário Oyama Figueiredo lançou o projeto ao lado de autoridades municipais, afirmando estar concretizando o seu antigo sonho idealista de dotar a cidade de um Apart Hotel com alto nível, ninguém ousou imaginar que o empreendimento seria um dos maiores fracassos do mercado imobiliário feirense. A falta de estacionamento no projeto original não foi questionada nem pelo poder público municipal, responsável pela liberação da obra, nem pela imprensa.
Uma autoridade municipal da época que estava presente na inauguração e também preferiu não se identificar contou que a empolgação dos envolvidos foi tamanha, ao ponto de se falar em hospedar a delegação de alguma seleção que disputaria a Copa do Mundo de 2014 no Brasil. “No lançamento era o que mais se falava, ninguém imaginou o que aconteceria no futuro”, revelou o membro do então governo do ex-prefeito Tarcízio Pimenta, que foi procurado pelo Blog, porque aparece em fotos do dia do lançamento.
O Blog do Velame apurou, ainda, que em 2010 os donos do Amayo chegaram a encomendar estudos para instalação de um hospital no prédio, porém, foram desaconselhados por conta da má qualidade dos ferros utilizados na obra que inviabilizam a possibilidade do uso de equipamentos pesados nos andares mais altos.
Estima-se que a área total do Amayo esteja avaliada entre R$ 60 e R$ 80 milhões, já que o metro quadrado na Getulio Vargas é vendido atualmente entre R$ 3.000 e R$ 4.000.
O empresário Oyama Figueredo foi procurado pela reportagem para dar sua versão dos fatos, entretanto as ligações não foram atendidas. A novela do Amayo, que significa Oyama ao contrário, parece estar longe do fim.
Boulevard Shopping funcionará até meia noite e funcionários podem ficar sem transporte público
O Boulevard Shopping foi autorizado a funcionar das 8h às 24h desta quarta-feira(23), de acordo com decreto municipal publicado no fim do dia. Diversos funcionários manifestaram ao Blog do Velame insatisfação com a decisão.
De acordo com a funcionária de uma loja que não quis se identificar, a maior parte dos colaboradores foram avisados em cima da hora. “É um absurdo ser avisado uma hora dessas. Nós somos expostos a um transporte precário, sem segurança e neste horário, a gente nem sabe se terá ônibus rodando”, afirmou.
Alguns lojistas decidiram fechar os estabelecimentos no horário normal. Um deles que também não quis se identificar, informou que considera um desrespeito com seus empregados estender o horário do expediente repentinamente.
O Blog do Velame tentou contato com o Boulevard Shopping e com a secretaria de Transporte e Trânsito para saber se haverá extensão do horário de circulação dos ônibus para que os funcionários das lojas possam voltar para casa, mas até o horário desta publicação, não obteve resposta.
Projeto de Feira de Santana receberá apoio de Instituto Alemão para produção de Podcast
Um projeto de Podcast de Feira de Santana foi selecionado entre mais de 1000 ideias na América Latina para receber apoio do Goethe-Institut, que é o instituto cultural de âmbito internacional da República Federal da Alemanha. Idealizado por membros do projeto Dados Abertos de Feira, o Podcast “Cidades Abertas” receberá recursos e treinamento do Goethe-Institut para produção de 6 episódios sobre transparência. O instituto cultural alemão promove o projeto “Tramas Democráticas” onde reúne iniciativas e instituições da América do Sul e da Alemanha voltadas para o fortalecimento de práticas e valores democráticos.
O podcast terá a produção e apresentação da engenheira de software Ana Paula Gomes, do jornalista Rafael Velame e do pesquisador Guilherme Wanderley, todos voluntários do projeto Dados Abertos de Feira.
“Estamos super felizes de anunciar que, dentre mais de 1000 ideias, fomos selecionados no edital para produção de podcasts Tramas Democráticas. Em breve um podcast que fale sobre dados abertos a nível local”, disse Ana Paula, que é a fundadora do Dados Abertos de Feira, uma iniciativa de fomento à transparência, à abertura dos dados públicos e de incentivo ao controle social no município de Feira de Santana formado por iniciativa da sociedade civil organizada, apartidária e sem fins lucrativos.
Para Velame, o apoio do instituto internacional é um marco. “Podemos lutar por mais transparência e pelo uso aberto dos dados no município com as ferramentas que temos. Infelizmente é necessário buscar apoio de fora para conseguir chegar mais longe, mas vamos continuar tentando que os poderes públicos locais reconheçam a importância dos dados e da transparência deles”, disse.
Virna Jandiroba busca terceira vitória no UFC e mira cinturão
Duas das melhores especialistas em Jiu-Jitsu do MMA mundial estarão frente a frente neste sábado, 12, de dezembro no no UFC Apex, em Las Vegas. Virna Jandiroba e Mackenzie Dern, que duelam no peso-palha prometem uma apresentação de tirar o fôlego. A lutadora baiana vem de vitória diante de Felice Herrig, luta em que ainda levou a premiação de finalização da noite. Virna se diz determinada a conquistar espaço no top 10 da organização e busca uma disputa de cinturão. “Estou pronta pra entrar no top 10 e começar a busca pelo cinturão”, diz. Sobre Mackenzie, que vem de duas vitórias consecutivas, Jandiroba acredita que uma vitória sobre a lutadora vai ser muito importante para a carreira. “Quero mostrar que posso ser o principal nome da categoria e por isso busto lutar com as melhores. Não escolho adversárias”, contou.
Virna destaca que, a cada luta, é trabalhada uma estratégia de treinamento de acordo com a adversária. “Seguindo o planejamento do meu Head Coach, Renato Velame, fazemos treinos técnicos de MMA, de Muay Thai, de Jiu-Jitsu, Grappling, tudo isso com acompanhado de preparação física, fisioterapeuta e outros profissionais que fazem parte do camping ”, detalhou.
Especialista em Jiu-Jitsu, assim como a adversária, Jandiroba destaca que quando se entra em um octógono de MMA uma lutadora precisa se mostrar completa. “Apesar de ser oriunda da arte-suave treino bastante outras artes-marciais e tenho certeza que estou sempre em evolução. Vou em busca da vitória seja em pé ou no chão com a mesma tranquilidade”, salientou a atleta.
Ao todo, serão sete brasileiros em ação no UFC Apex. Além de Virna, Deiveson Figueiredo fará a luta principal, Charles do Bronx, encara Tony Ferguson pelo peso-leve; Renato Moicano, enfrenta Rafael Fiziev na mesma divisão; Ronaldo Jacaré, que mede forças com Kevin Holland pelos médios; Júnior Cigano, que luta com Ciryl Gane pelo peso-pesado. O evento terá transmissão ao vivo do Canal Combate.
Olá, Covid
Por Daniele Britto*
Foram litros de álcool, máscaras descartáveis, máscara de pano, face shield, abraços negados, brindes adiados e uma rotina de espiritualização intensa para não sucumbir aos pés da ansiedade e do pânico.
As crianças ficaram bem guardadas, assim como boa parte da família. A minha mãe (teimosa), nossa preocupação-mor, aceitou a inversão de papéis e obedeceu filhas, filho e a netalhada toda. Mês a mês, o gostinho do brigadeiro de cada aniversário fez uma falta enorme e tivemos que nos contentar e ter paciência com o delay do Google Meet na hora dos parabéns.
Fizemos tudo certinho. Eu passava e repassava instruções incansavelmente e minha mão até despelou de tanto álcool em gel. Já briguei com meu marido Rafael por conta de álcool. Em gel. Sim, eu cheguei a esse ponto.
As crianças não se adaptaram às aulas remotas, então, desistimos dela. Mas não de ensinar. Do nosso jeito, utilizando a criatividade e doses extras de instinto, foi dando certo. Clara já está quase lendo e Tom já consegue desenhar bonecas e bonecos com cabeça, tronco, membros. Até cílios ele coloca. Mas não foi só isso que eles aprenderam. E nem nós.
Nossos trabalhos, atividades acadêmicas e de pesquisa foram todos remotos. Eu tenho certeza que minha hipermetropia aumentou, mas foi uma experiência única. A coluna doendo, o cérebro feliz e o coração emocionado por cada novo aprendizado, por releituras transformadas. Nossa, eu que sou de poucos, fiz tantos amigos na quarentena, isolada. Nem eu sei explicar esse fenômeno de empatia.
Pois bem. O que você pensar, nós fizemos. E também não fizemos o que não deveria ser feito. Aqui em casa formamos um bonde que por nove longos meses conseguiu barrar a Covid-19. Até o último dia 4/11, quando recebi o meu “detectável” no exame. Só eu. Rafael e as crianças, não.
Eu não imaginei que aquela coriza tão comum pra mim (tenho rinite alérgica) e aquela dor de cabeça chata, mas não mortal pudesse significar alguma coisa. Mas eu tive contato com alguém que, depois, descobri que estava contaminada. Não tive paz. Segui os protocolos e bingo: o resultado confirmou o que eu intuitivamente certamente já soubesse.
Estou bem. Estou isolada. Não sei bem o que fazer com essa pausa na vida, se leio, se durmo, se maratono uma série, se apago as fotos inúteis do meu celular ou tudo isso. Trouxe para o quarto o computador, caderno, livros, minhas canetas coloridas mas ainda estou confusa, pois não me sinto tão doente. Claro que isso me alivia, mas é estranho.
Comecei a pesquisar mais sobre os estudos da Covid-19 e me assustei com os dados sobre a reinfecção. Descobri que os assintomáticos têm maior probabilidade de se reinfectar e algumas pessoas que tiveram sintomas severos não produziram anticorpos. Li, cansei o Google e entendi que, verdadeiramente, não se sabe quase nada. Parei pra não pirar. Não é o momento.
Estou um pouco cansada, agora. Meu corpo está implorando para deitar. Pra mim é um pouco constrangedor dizer isso, confesso. Penso em tantos que não puderam – e nem poderão – se cuidar como eu faço agora, ou que morreram antes de entender o que estava acontecendo.
A todo momento recebo instruções, carinho, mensagens e tudo que intensamente alimenta a imunidade. Até vitamina C já ganhei. Minhas crianças pensam que estão de férias na casa da avó, mas estão cientes que a mamãe tá “dodói com coronavírus”. E que permaneçam assim, amenos. Não precisam ter sobre os ombros e cabecinhas a penumbra dos respiradores ou enterros sem parentes. É demais.
A única certeza que tenho nesse momento é que, pra mim, ter Covid-19 não significa que acabou. Para minha sorte, é só uma pausa. Em breve voltaremos com a (intensa) programação normal com direito a renovação do estoque de máscaras e regada a muito álcool em gel. Esse looping tá longe de acabar.
Se cuidem.
*Daniele Britto
Advogada e Jornalista
Mãe, feminista, antirracista e aliada na luta contra a homotransfobia
Pesquisadora no grupo Corpo-território Decolonial (Uefs)
Mestranda PPGE/Uefs
Ran Rainha promete confronto com fundamentalistas e racistas caso seja eleita em Feira
Por Rafael Velame
Filha de mãe solteira, lavadeira, faxineira, defensora da causa LGBT, preta, produtora cultural, líder estudantil, estudante de cinema e ativista da soberania alimentar. Esse é um perfil de Helder Santos Souza, feirense, da Barroquinha, 35 anos, e que prefere ser chamado pelo nome de Ran Rainha e é pré-candidata a vereadora de Feira de Santana pelo PSOL.
Ran é bastante conhecida na cidade pelo ativismo cultural e por algumas polêmicas. No movimento estudantil desde os 15 anos de idade, foi uma das primeiras assessoras do mandato do então deputado estadual, Zé Neto. Na política, diz se espelhar na ex-senadora Heloisa Helena, no ex-presidente Lula, no ex-vereador Marialvo Barreto e no ex-deputado Jean Willys. “Essas pessoas me fizeram hoje o que sou enquanto pensamento na vida, me ajudaram muito a direcionar meu caminho”.
Ran conhece de perto os bastidores do legislativo feirense. Em 2005, trabalhou no mandato do professor Marialvo e diz ter visto muitos absurdos. “Muita coisa absurda tipo vereador marcando consulta”, conta. Essa prática ela não pretende adotar. “Coisas que não tenho intenção de fazer, tenho intenção é de denunciar”.
Por entender que a Câmara atual não representa o povo feirense, decidiu tentar ocupar uma cadeira no conservador legislativo feirense. “Decidi me candidatar pela ausência de representatividade política na Câmara, falta quem represente a juventude da periferia, a cultura de Feira, o debate de soberania alimentar e alguém que banque a pauta de políticas públicas LGBT”, reclama.
Como muitos moradores de Feira, Ran se sente um cidadã invisível na Câmara. “Ela não me enxerga. Não vejo atuação, não vejo resposta as necessidades da cidade. Cidade sem saneamento básico, sem pavimentação”, critica.
Ran Rainha foi responsável pelo Festival Elefante Branco, que usou as estações abandonadas do BRT nas avenidas Getulio Vargas e João Durval Carneiro para realização de uma “festa protesto”. “O festival teve o intuito de denunciar e dar visibilidade ao BRT usando o fator cultural musical para denúncias. Demos visibilidade a essa problemática da cidade”.
Sobre o BRT ela é taxativa.”Um BRT que não pensa na mobilidade urbana”.
Caso seja eleita, Ran promete debater políticas públicas pensando nas pessoas, algo que diz não existir na política atual da cidade. “Não tem contraponto, não tem oposição que paute os interesses do povo”. Para ela, a política esta em processo de desinteresse. “As pessoas estão desacreditadas que elas são capazes de ocupar esses espaços e por isso esse setor fundamentalista religioso ocupa esses espaço para destruir a gente”.
Desde que o PSOL tornou pública a sua pré-candidatura, muitas pessoas comentaram nas redes sociais que gostariam de ver um debate de Ran com o vereador fundamentalista religioso Edvaldo Lima no plenário feirense. “Edvaldo Lima só sabe atacar os LGBT. Ele só existe porque nós existimos. Temos que ocupar esses espaços para fazer contrapontos e para pautar a nossa realidade. Minha bandeira é por um parlamento com diversidade de pensamento”.
Um assunto recorrente nas redes sociais da pré-candidata é a soberania alimentar. Mas, o que é isso? Segundo ela, esse é um debate importante em Feira enquanto política pública. “Precisamos fomentar a criação de hortas orgânicas, hortas comunitárias na periferia. Em um momento desse de pandemia nossa independência alimentar seria muito importante”, explica.
Em 2011, aprovada no primeiro Enem da história, a feirense foi estudar História na cidade de Jaquarão, no Rio Grande do Sul. Mas, o sonho virou pesadelo. Ran virou notícia em todo Brasil por ter sido mais uma vítima da violência policial brasileira. Abordada pela polícia gaúcha com ofensas racistas e truculência, acabou agredida e presa. A estudante baiana denunciou as agressões à corregedoria da Brigada Militar gaúcha e acabou vítima de diversas ameaças de morte. Com medo, teve que retornar para Feira e foi temporariamente beneficiada pelo Programa de Proteção a Testemunhas da Secretaria da Justiça da Bahia. Por isso, a bandeira anti-racismo também será defendida. “Nosso mandato vai estar disponível a todos que forem vitimas de racismo. Não podemos passar pano pra racista. Se essa bicha preta chegar no mandato, nosso lema para racista vai ser bala e fogo”, brada. Caso consiga ser o primeiro homossexual assumido a assumir um mandato na Câmara de Feira, Ran Rainha entrará para história. “Quero construir políticas públicas não só para os LGBTS, mas para toda cidade. Ter um viado na Câmara, um representante de travesti na Câmara, essa será a primeira mudança”.
Algumas lendas pairam sobre Ran. Uma delas é a que vende brigadeiro de maconha nas festas. Ou como ela fez questão de frisar: “brizadeiro”. Os boatos surgiram porque ela faz parte da empresa “Manga Rosa”, culinária canábica. Eles trabalham com material importado e legalizado derivado da maconha. “Óleos, azeites, é diferente da maconha, são derivados do canabinol. Por exemplo, a semente da maconha é riquíssima em omega 3. Estamos desenvolvendo em Feira uma linha de produtos derivados desse material”, explica. Por fim, escolada com o processo de criminalização da maconha, Ran fez questão de deixar claro. “Não sou traficante. Não vendemos maconha. Todo material é importado que vem pelo correio”, ressalta.
O sempre errado Edvaldo Lima
Por Daniele Britto*
Hoje pela manhã, após assistir uma live-aula extraordinária dos queridos pesquisadores Dr. Eduardo Miranda (Corpo-território-decolonial) e do pernambucano Dr. Iran Melo (Nuqueer) sobre decolonialidade, me deparo com a publicação do Blog do Velame (leia aqui), na qual o bolorento vereador-fundamentalista Edvaldo Lima afirma, entre outras coisas, que:
“Esse cidadão, ele pode representar ele próprio, como trans que ele é. Que segundo tomei conhecimento que ele implantou pinto pra ser homem, nunca vai ser homem. Ele vai ser homem como? Ele pode implantar pinto, nunca vai fazer um filho (…). Quem nasceu mulher é mulher e quem nasceu homem é homem. Esse elemento não representa ‘os pai’ (sic)”.
O vereador se refere à campanha de dia dos pais da empresa Natura, que tem Tammy Miranda como garoto-propaganda.
Eu, sinceramente, não consigo avaliar por onde seria melhor começar. Talvez, se eu informasse ao vereador Edvaldo Lima que um homem trans não só pode ter filhos, mas também pode parir a uma criança seria um bom começo, não acham? (Neste momento, eu rio sozinha e satisfeita imaginando o vereador engasgando com seu rio de perdigotos).
Mas, vamos traçar uma sequência lógica de desconstrução desse discurso homotransfóbico que sim, deve ser levado ao debate em busca da retaliação adequada ao edil pentecostal que se esconde, como todo bom covarde legislador, sob o manto da imunidade parlamentar. Sigamos.
Faz-se necessário introdutoriamente entender o que a categoria teórica gênero, fomentada nos anos 70, com o objetivo de teorizar a questão da diferença sexual significa. Um dos principais debates sobre este “conceito”, é a ideia de que as diferenças baseadas no sexo (masculino e feminino) são essencialmente sociais e passam longe da naturalização. Trocando em miúdos: coisas masculinas ou femininas não são naturais do homem ou da mulher. São padrões impostos e construídos como forma de dominação e opressão.
O debate sobre gênero ganhou potência com as lutas feministas, cujos estudos sobre identidades eram fundamentais à causa. Foram as feministas que provaram que a história dos corpos das mulheres era pautada pelas relações de poder dentro da sociedade, ou seja, as mulheres eram moldadas e limitadas pelos homens. Faço, aqui, uma leitura sem incluir os não-binários, pois talvez seja muita informação para o varão Lima.
Sexo, por sua vez, é delimitado por um arcabouço físico-biológico, tem relação direta com o as genitálias – pênis e vagina, e não “pinto” e “contrário de pinto”, como denomina o legislador sem noção. Outras características fisiológicas que diferenciam os seres humanos como machos ou fêmeas a nível físico ou genético também constam nesta categoria teórica e são alvo de inúmeras discussões.
Definido mais do que resumidamente o que é gênero e sexo, vamos compreender a categoria teórica de sexualidade, que muitos e muitas confundem com gênero ou sexo. A sexualidade é produto – ou produtos, sem dúvida – de um nada simples conjunto de processos históricos, sociais, culturais e claro, biológicos. Sexualidade tem a ver com o que te dá tesão, com a erotização, mas também com o que reprime os teus desejos e prazeres. Heterrosexual, homossexual, bissexual, não-binário… se eu começar a elencar aqui as diversas possibilidades de sexualidade, não concluo hoje o texto.
Mais uma etapa cumprida. E agora, também de forma muito superficial, ressalto, vamos compreender a categoria teórica da identidade que, conforme um autor chamado Stuart Hall, está relacionado às posições que o sujeito assume na complexa rede de significações culturais. O que isso quer dizer? Que as identidades construídas durante o Iluminismo não são as mesmas da modernidade que por sua vez, não são as mesmas da transmodernidade proposta por Dussel.
Hall afirma que a identidade torna-se uma “celebração móvel”: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam (Hall, 1987). Para ficar mais claro: nossa identidade é definida pela história e não pela biologia. Podemos assumir identidades diferentes em diferentes distintos, sem nenhuma necessidade de ser coerente, nos deslocando a todo momento para diversos lugares.
Concluímos, portanto, que existem diversas formas de tornar-se homem ou mulher, ou seja, de assumir uma identidade de gênero, assim como, da mesma forma, existem múltiplas formas de subjetividades no campo das orientações sexuais.
O que eu quis dizer com tudo isso? Que o vereador Edvaldo Lima e a maioria dos seus pares – não sabem NADA disso. Desconhecem qualquer teoria, estudo ou debate dentro das referidas categorias teóricas e pior: não tem nenhuma familiaridade com os Direitos Humanos.
Edvaldo Lima é perverso e faz uso do determinismo biológico, que aliena e serve, até hoje, de argumentação colonialista para criar etiquetamentos sociais e, infelizmente, escravizar fiéis – e eleitores.
Discurso raso, que dialoga com um fundamentalismo homicida, que tira a vida de muitos homens e mulheres homossexuais, trans e travestis ao redor do mundo.
Ao ouvir as falas retrucando Lima, vejo que ainda falta muito à Câmara de vereadores para que esta legislatura seja, no mínimo, democrática. Falta, principalmente, o desmame da velha política alienatória e oportunista, que deve ser substituída com extrema urgência pelas pautas inclusivas em estreita caminhada com a transmodernidade. É necessário rejeitar irracionalidades, desmontar as estruturas coloniais e, sem dúvidas, alinhar-se à Constituição.
Não ouçam Edvaldo Lima. Tammy Miranda representa a concepção plural de famílias que nasce mundo afora. Representatividade importa SIM.
*Daniele Britto
Advogada e Jornalista
Mãe, feminista, antirracista e aliada na luta contra a homotransfobia
Pesquisadora no grupo Corpo-território Decolonial
Mestranda PPGE/Uefs
Delivery no toque de recolher: Procurador libera, mas PM coíbe
Dandara Barreto
e-mail:[email protected]
O procurador geral do município de Feira de Santana, Carlos Alberto Moura Pinho disse, em entrevista ao programa Transnotícias da rádio Transbrasil FM, que os estabelecimentos que podem funcionar depois das 18 horas durante o toque de recolher são os serviços essenciais como farmácias, hospitais e serviços de entrega e transporte.
Segundo ele, os serviços de delivery e transporte são necessários à pessoas que estão reclusas em virtude do toque de recolher. “Eles vão poder transitar para atender as necessidades das pessoas, sem nenhum embaraço”. Questionado sobre a dúvida da possibilidade do funcionamento do delivery de alimentos, Moura Pinho informou que estava ao lado do prefeito no momento em que ele deu uma entrevista e frisou que o serviço está permitido. O procurador informou que a prefeitura divulgou equivocadamente um card com uma tabela indicando os serviços que deveriam fechar às 16 horas. Farmácia, postos de combustíveis e delivery em geral estavam inclusos. Ele informou que os postos também poderiam funcionar.
A informação foi confirmada pelo Coronel Luziel Andrade, comandante do Comando de Policiamento Regional Leste(CPRL). Também em entrevista à rádio Transbrasil FM, ele disse que as entregas poderiam acontecer normalmente.
A Secretaria Municipal de Comunicação divulgou a tabela corrigida, mas a indicação que os serviços essenciais de delivery, postos de combustíveis, padarias e supermercados, unidades de saúde (PSF), serviços de segurança privada, serviços funerários, borracharias, bancos e lotéricas, rações, fertilizantes e produtos veterinários, devem encerrar suas atividades às 16 horas. Apenas delivery de medicamentos podem circular após às 18 horas. Questionado sobre a divergência das informações, o secretário de comunicação, Edson Borges, informou que estas são as informações do decreto estadual, ou seja, as que o município deve seguir.
Na noite desta quarta-feira (15) o jornalista Rafael Velame esteve em uma das barreiras policiais na avenida Getúlio Vargas para saber da Polícia Militar, qual orientação está sendo seguida. De acordo com tenente Yuri Oliveira, coordenador de comunicação do Comando de Policiamento Regional Leste(CPRL), os entregadores estão sendo orientados a voltar, pois não há permissão para a circulação nenhuma entrega que não seja de medicamentos. Veja no vídeo abaixo.
Número de casos de covid-19 em Feira cresce 287% em um mês
Rafael Velame
[email protected]
Feira de Santana, no período de 06 de março a 11 de julho 2020, registrou 5.061 casos de Covid-19. Em 11 de junho, o número total era de 1.306 casos confirmados, um crescimento de 287%. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, 2.579 já são pacientes considerados curados. Nas últimas 24 horas, foram registrados 82 casos e 69 estão hospitalizados. Os bairros com maior número e contaminados são, Sim, Tomba, Mangabeira, Jardim Cruzeiro e Campo Limpo (confira lista completa). Até este sábado (11), 82 pessoas tiveram óbito confirmado em Feira de Santana desde março. Na Bahia, o último boletim epidemiológico contabiliza 104.188 casos confirmados.
Instalação da central de ar-condicionado no HGCA II custou mais de R$ 3 milhões
Por @RafaelVelame
Prometido pelo Governo da Bahia para o dia 30 de maio, depois para 6 de julho o Hospital Geral Cleriston Andrade II, em Feira de Santana, continua sem data marcada para começar a receber pacientes. O principal motivo do atraso é a instalação da central de ar-condicionado e exaustão. A empresa Climoar Climatização está finalizando a instalação que custou R$3.038.308,93 aos cofres públicos. O contrato sem licitação foi assinado no fim do mês de maio e publicado no Diário Oficial do Estado. Pelo documento, a empresa teria até 150 dias para executar o serviço. O Secretário Estadual de Saúde, Fábio Villas Boas afirmou ao Blog do Velame que a central que está sendo instalada é elétrica e foi comprada para ser reserva da principal, que é alimentada por gás natural. Segundo ele, a central de ar condicionado principal do Hospital ainda não chegou da Coreia do Sul, onde foi comprada. O novo hospital incialmente receberá apenas pacientes com covid-19 e terá 40 leitos de UTI.
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Médico nega informação sobre óbitos indevidos no Hospital Espanhol
O diretor médico do Hospital Espanhol, Roberto Badaró, emitiu uma carta na noite desta quinta-feira (11), negando que a unidade classifique indevidamente os óbitos dos pacientes com o diagnóstico de Covid-19. (Clique aqui e assista).De acordo com o diretor médico, “todos os óbitos ocorridos no Hospital Espanhol são avalizados pela coordenação médica. Se o óbito ocorre é obrigação da unidade hospitalar que emite a Declaração de Óbito (DO), colocar a causa corrigida e não continuar com a suspeita diagnóstica da chegada. Na eventualidade de um óbito ocorrer antes do resultado laboratorial, a DO sairá como “suspeita de Covid-19” e pode ser corrigida postmortem pela autoridade sanitária estadual. Neste cenário, cabe registrar que a Vigilância Epidemiológica, de modo assertivo, só contabiliza as declarações de óbito classificadas como casos suspeitos de coronavírus após investigação e/ou resultado laboratorial confirmatório”, afirma em carta a imprensa. Badaró ainda detalha fluxo pré-estabelecido em casos suspeitos de Covid-19. “É preciso compreender que, numa situação de epidemia, o diagnóstico clínico é importante para não deixar casos graves de fora. Não fosse assim, centenas de pessoas permaneceriam nas UPAs por vários dias, em condições inadequadas de tratamento. Dessa forma, nem todos os pacientes internados nos hospitais terão o resultado do RT-PCR confirmado antes da admissão”, afirma o diretor médico. Ainda segundo ele, “uma parcela dos pacientes internados permanecerá sem confirmação diagnóstica até o recebimento do resultado do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-BA). Cabe ao hospital de referência, que recebe os pacientes suspeitos, investigar para tratar e encaminhar adequadamente o caso. Por fim, todos os pacientes que recebem diagnóstico negativo para coronavírus são contra-referenciados para outras unidades públicas de saúde e serão transferidos”, destaca. Na oportunidade, o diretor médico do Hospital Espanhol, Roberto Badaró também reconhece o papel do Governo do Estado, Prefeituras e da Central de Regulação no combate a pandemia. “Quero reiterar o meu respeito pelo trabalho primoroso para abrir vagas de UTI em todo o Estado. Igualmente reconheço o esforço dos profissionais da Central de Regulação, que vêm trabalhando junto às UPAs e regulando pacientes para os hospitais em tempo recorde, evitando que ocorram mortes por falta de assistência adequada”, finaliza.
Zé Neto revela ajuda de R$ 2,00 por habitante para Feira e ataca Colbert
O deputado federal Zé Neto (PT) respondeu o prefeito Colbert Filho (MDB) sobre as críticas de falta de repasse de recursos para a Prefeitura de Feira de Santana no combate ao coronavírus. O petista afirmou na rede social que o emedebista teve atitude mesquinha e eleitoral ao criticar o Estado. “É necessário falar menos em rede social e trabalhar mais em harmonia com o Governo do Estado”, bradou. Neto destacou as medidas do governo no combate ao coronavírus defendendo o isolamento social e disse estar buscando a contratação de leitos de UTI na cidade. “Não temos um leito de UTI contratado pelo município e nem vamos ter porque Feira é a única cidade com mais de 600 mil habitantes que não tem hospital geral municipal”, criticou. Ele justificou que o dinheiro enviado pelo Governo Federal ainda não foi repassado para as prefeituras porque ainda não houve a liberação do conselho. “Feira vai receber R$ 2,00 por habitante para fazer sua parte que é a triagem de pacientes”, destacou. Clique AQUI e assista.
Presidente da Câmara reconhece falta de transparência e promete divulgar dados
A jornalista Dandara Barreto, enfim, conseguiu respostas do vereador José Carneiro, presidente da Câmara Municipal de Feira, sobre a falta de transparência denunciada nos programas Café das 6 (Rádio Globo) e Transnotícias (TransBrasil). Ele alega que não há dificuldade alguma em conseguir informações sobre o legislativo. Questionado sobre o fato de do repórter João Guilherme Dias, ter ido quatro vezes ao setor de recursos humanos e voltar sem a informação, ele informou que houve uma “chateação” por parte de um servidor que se sentiu ofendido quando cobrado pelos jornalistas. Vale ressaltar que em momento algum aconteceram ofensas nas solicitações feitas. José Carneiro disse ainda, que precisa agradecer ao jornalista Rafael Velame por ter levantado o assunto, pois a partir deste fato, foi tomada uma decisão, que inclusive nem foi anunciada aos vereadores: a partir da próxima segunda feira, dia 3 de fevereiro, volta do recesso, a lista de presença dos edis estará disponível no site da Câmara de Vereadores de Feira de Santana diariamente. Além das solicitações dos jornalistas, a Câmara também havia sido procurada através da Lei de Acesso a Informação pela programadora Ana Paula Gomes, do site Dados Abertos de Feira, que também não teve seu pedido atendido. Ela chegou a acionar o Ministério Público que notificou o legislativo feirense. Entretanto, a lista de presença do ano de 2019, continua sem ser disponibilizada pela Câmara.
Por que Bira, do Programa do Jô, falava tanto em Feira de Santana?
Reportagem publicada no Blog da Feira em 27 de agosto de 2007.
Por Rafael Velame
O baixista Bira do Programa do Jô é conhecido por sua risada exagerada, marca registrada de uma personalidade divertida. Baiano de Salvador, nascido e criado no tradicional bairro do Bonfim, Bira nunca teve duvidas de que havia nascido para fazer música. “Nasci para tocar” contou.
Ultimamente uma constante brincadeira de Jô Soares chamou a atenção do Blog. O irreverente apresentador sempre relaciona Bira à cidade de Feira de Santana. Em uma conversa exclusiva com Blog, Bira revelou que tudo começou em uma entrevista, há tempos atrás. “Uma pessoa de Feira de Santana, que estava sendo entrevistada pelo Jô, me perguntou se eu conhecia a cidade. Eu respondi que sim e brinquei dizendo que era o centro comercial de todo o Nordeste, tudo que vai para o Norte e Nordeste do Brasil passa por Feira de Santana. É uma cidade importantíssima e próxima de Salvador. Depois desse discurso que eu fiz, Jô achou engraçado e ficou a brincadeira no ar. Sempre que ele me pergunta sobre alguma cidade eu digo que é próximo a Feira de Santana”, ironizou.
Morando em São Paulo desde 1967, o baixista começou a trabalhar na televisão no SBT com Silvio Santos. “Foi um prazer trabalhar com o Silvio”, lembrou. Com Jô Soares ele trabalha há 19 anos. Mas, para chegar onde está hoje, Bira já ralou na vida. Em Feira de Santana, o anônimo Ubirajara Penacho dos Reis trabalhava como propagandista de um laboratório de remédios. “Apesar do trabalho duro, eu adorava trabalhar em Feira, pois toda vez que eu chegava lá pegava a lambreta de um amigo que trabalhava no antigo banco Econômico, e ia passear pela cidade”. Bira mostrou-se um amigo desmemoriado e não lembrou o nome do colega feirense, mas acredita que ele ainda está vivo. “Recentemente fiquei sabendo por um amigo que apenas dois dos meus contemporâneos morreram”, revelou.
A ultima vez que esteve em Feira foi nos anos 60. “Eu me hospedava no hotel da Euterpe, existia um hotel com esse nome?”, perguntou dando sinas que a memória anda fraca não só para lembrar do nome do amigo.
Bira disse ainda que costuma receber cartas de Feira e destacou a de uma cantora feirense que ele não lembra o nome (para variar). “Ela pedia uma oportunidade no programa do Jô e contava na carta que fez uma música em homenagem ao Jô Soares, repassei a carta para a produção e a qualquer momento ela pode ser chamada para uma entrevista”.
Quando estávamos quase encerrando a conversa o irreverente e simpático músico fez a revelação mais importante da entrevista. “Nas férias de janeiro eu vou a Feira de Santana”. De pronto fizemos o convite: um almoço do Blog da Feira com Bira do Jô, e ele aceitou na hora.
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