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21 de novembro de 2020 - 16H 11m

A história que não querem te contar – ou que você não quer ouvir.

Por Daniele Britto*

Gostaria de compartilhar um pouco da pesquisa na qual venho me dedicando nos últimos dias. Meu objetivo era compreender os últimos 100 anos da história política de Feira de Santana e como se forja a nossa percepção sobre o assunto. Mas, nem mesmo este intervalo centenário na linha do tempo da nossa história foi capaz de me fornecer respostas. Fui mais além.

Retrocedendo o marco existencial romantizado da fundação da cidade que tem o casal Ana Brandôa e Domingos Barbosa de Araújo como protagonistas, adentramos uma seara inóspita, praticamente desconhecida pela maioria de nós. Há alguns dias busco trabalhos acadêmicos e bibliografias perdidas sobre o nosso territórios, para tentar entender como viemos parar aqui nessa demarcação temporal que conhecemos como “hoje”.

Às vésperas de uma eleição para o segundo turno, eu quis compreender do que, de fato, se tratavam os principais argumentos dos dois candidatos ao pleito: o que seria “mudança” e o que representaria a “continuidade”? Quem são estes personagens da disputa e o que move as suas ideias? É o que pretendi descobrir.

Em uma dissertação de mestrado acerca do período colonial em Feira de Santana, a pesquisadora escreveu uma frase que me marcou profundamente: “uma das tarefas do historiador é recuperar a história, inclusive os seus silêncios”. A partir disso entendi que, neste momento, precisamos estar atentos mais sobre o que [os nossos candidatos] NÃO estão falando do que com o que é efetivamente dito.

Li sobre as políticas de expansão de Portugal no Século XV, e relembrei que aos donatários das capitanias hereditárias eram dados os poderes de: ministrar a justiça, distribuir terras de sesmarias, arrecadar os dízimos e fundar povoações. Isso é tornar-se o velho e conhecido “dono da porra toda”. Para nós, dois nomes importam: Francisco Dias d’ Ávila e Antônio Guedes de Brito. Esses dois daí eram donos de tudo. E todos.

Feira foi desmembrada de Cachoeira, mas era muito maior do que é hoje. Curiosamente, até Santa Bárbara fazia parte do município e eu não disse que isso significa nada. Talvez subliminarmente, quem sabe? Li sobre gado. Muito gado pra pouquíssimos proprietários. Fazendas cresciam, impostos eram gerados e pagos à Coroa Portuguesa mas, nem tudo eram flores: os negros fugidos e os índios rebeldes criavam problemas. Muitos problemas.

Índios e negros representavam ameaça à colonização e consequentemente, ao progresso e ao desenvolvimento. E isso justificava a captura destes indivíduos, pois, era justo e necessário frear quem impede o progresso. E é a partir daqui que a história de Feira de Santana é contada de três maneiras diferentes: pela tendência tardicional dominante, que foca no casal Araújo e Brandoa; uma intermediária, que fala sobre o casal mas lança algumas tímidas críticas e, por último a tendência considerada polêmica, pois coloca holofotes em um nome que pouco ouvimos: João Peixoto Viegas, um sertanista e abastado proprietário de terras. Homem que sabia caçar negro escondido e índio bravo; que multiplicava  seus domínios – e seu gado – como mágica – e com violência. Não era um bom gestor e sim um exímio explorador. Nem preciso dizer que pulei tudo e me voltei para a versão polêmica que tinha como principais fontes Godofredo Filho e o Monsenhor Renato Galvão.

Pra facilitar, um resumo: mesmo na versão mais polêmica da história de Feira, as relações entre poder e memória se resumem a homens brancos e a forte e decisiva participação da igreja cristã em tudo. De volta ao presente, pergunto: ate onde sua memória alcança, já foi diferente? Hoje está sendo diferente? 

Os personagens apagados e silenciados de ontem permanecem, hoje, os mesmos. Mais de 400 anos depois, é só olhar para Feira de Santana e ver isso nitidamente. Feira foi construída à base de exploração, favorecimentos de determinados grupos e extermínio de quem valia menos que pasto. A tal “mudança”, da forma que deveria ser, talvez nunca chegue e a “continuidade” só continuará beneficiando os de sempre. 

Se não quiser seguir o meu exemplo e futucar a linha do tempo entrecortada da história de Feira, analise, ao menos, os últimos cinquenta anos: é uma dança das cadeiras com convidados limitados, sendo que alguns deles ao tempo que são inimigos, outra hora, de acordo com os seus interesses, então do mesmo lado da arquibancada torcendo para o “ex-amigo” quebrar a perna.

Já tive firmes convicções políticas, mas hoje prefiro manter apenas as ideológicas. Sempre optei pela minha liberdade e me recuso a me filiar a qualquer grupo que me imponha condições cerceadoras ou me faça sentir uma palhaça ou marionete desesperada. Minha crítica não está à venda e, da mesma forma, os meus elogios.

É por isso que o meu voto será uma conta simples a qual deixará tranquila a minha consciência e a minha dignidade: quem mais se aproxima do exímio exterminador de índios e empreendedor do ramo de navios negreiros e tráfico de escravos João Viegas, o “rei” do fumo e detentor de um dos maiores latifúndios do Brasil, não terá o meu voto. 

E você? Já conseguiu enxergar a história que não querem te contar ou vai optar por ser o gado desse latifúndio?

*Daniele Britto


Advogada e Jornalista
Mãe, feminista, antirracista e aliada na luta contra a homotransfobia
Pesquisadora no grupo Corpo-território Decolonial (Uefs))
Mestranda PPGE/Uefs

Feira de Santana / 18 de novembro de 2020 - 10H 31m

Estrada do Papagaio está sendo estruturada para ser duplicada

A rede de captação de águas pluviais da rua Rubens Francisco Dias, conhecida como Estrada do Papagaio, e da rua Jonas Rodrigues Sampaio, está sendo instalada. Ambas vão direcionar a água das chuvas para lagoas existentes na região.

A Rubens Francisco Alves terá a pista duplicada, entre a BR 116 e o Centro Diocesano, que vai facilitar o tráfego de veículos numa das regiões que mais cresce, em termos de expansão habitacional da cidade. A Prefeitura de Feira de Santana também vai recuperar a pavimentação da rua Universitária, que faz interseção com a rua Jonas Rodrigues, que ganhará pavimentação com asfalto a quente.

As intervenções nestas ruas oferecerão outra opção de acesso à BR 116 e vai encurtar distâncias para a UEFS, a partir da Fraga Maia e a Fagundes Filho. O investimento nesta obra passa de R$ 11 milhões.

A rede na Rubens Francisco Dias terá cerca de 1,2 quilômetro de extensão, com manilhas com diâmetros entre 0,80 centímetros, 1 metro e 1,2 metro. Operários estão fazendo as bocas-de-lobo na rua Jonas Rodrigues Sampaio, onde terrenos foram desapropriados para enlarguecê-la.

07 de novembro de 2020 - 10H 55m

Olá, Covid

“Sol da manhã”
Autor: Edward Hopper, 1952

Por Daniele Britto*

Foram litros de álcool, máscaras descartáveis, máscara de pano, face shield, abraços negados, brindes adiados e uma rotina de espiritualização intensa para não sucumbir aos pés da ansiedade e do pânico.

As crianças ficaram bem guardadas, assim como boa parte da família. A minha mãe (teimosa), nossa preocupação-mor, aceitou a inversão de papéis e obedeceu filhas, filho e a netalhada toda. Mês a mês, o gostinho do brigadeiro de cada aniversário fez uma falta enorme e tivemos que nos contentar e ter paciência com o delay do Google Meet na hora dos parabéns.

Fizemos tudo certinho. Eu passava e repassava instruções incansavelmente e minha mão até despelou de tanto álcool em gel. Já briguei com meu marido Rafael por conta de álcool. Em gel. Sim, eu cheguei a esse ponto.

As crianças não se adaptaram às aulas remotas, então, desistimos dela. Mas não de ensinar. Do nosso jeito, utilizando a criatividade e doses extras de instinto, foi dando certo. Clara já está quase lendo e Tom já consegue desenhar bonecas e bonecos com cabeça, tronco, membros. Até cílios ele coloca. Mas não foi só isso que eles aprenderam. E nem nós.

Nossos trabalhos, atividades acadêmicas e de pesquisa foram todos remotos. Eu tenho certeza que minha hipermetropia aumentou, mas foi uma experiência única. A coluna doendo, o cérebro feliz e o coração emocionado por cada novo aprendizado, por releituras transformadas. Nossa, eu que sou de poucos, fiz tantos amigos na quarentena, isolada. Nem eu sei explicar esse fenômeno de empatia.

Pois bem. O que você pensar, nós fizemos. E também não fizemos o que não deveria ser feito. Aqui em casa formamos um bonde que por nove longos meses conseguiu barrar a Covid-19. Até o último dia 4/11, quando recebi o meu “detectável” no exame. Só eu. Rafael e as crianças, não.

Eu não imaginei que aquela coriza tão comum pra mim (tenho rinite alérgica) e aquela dor de cabeça chata, mas não mortal pudesse significar alguma coisa. Mas eu tive contato com alguém que, depois, descobri que estava contaminada. Não tive paz. Segui os protocolos e bingo: o resultado confirmou o que eu intuitivamente certamente já soubesse.

Estou bem. Estou isolada. Não sei bem o que fazer com essa pausa na vida, se leio, se durmo, se maratono uma série, se apago as fotos inúteis do meu celular ou tudo isso. Trouxe para o quarto o computador, caderno, livros, minhas canetas coloridas  mas ainda estou confusa, pois não me sinto tão doente. Claro que isso me alivia, mas é estranho.

Comecei a pesquisar mais sobre os estudos da Covid-19 e me assustei com os dados sobre a reinfecção. Descobri que os assintomáticos têm maior probabilidade de se reinfectar e algumas pessoas que tiveram sintomas severos não produziram anticorpos. Li, cansei o Google e entendi que, verdadeiramente, não se sabe quase nada. Parei pra não pirar. Não é o momento.

Estou um pouco cansada, agora. Meu corpo está implorando para deitar. Pra mim é um pouco constrangedor dizer isso, confesso. Penso em tantos que não puderam – e nem poderão – se cuidar como eu faço agora, ou que morreram antes de entender o que estava acontecendo.

A todo momento recebo instruções, carinho, mensagens e tudo que intensamente alimenta a imunidade. Até vitamina C já ganhei. Minhas crianças pensam que estão de férias na casa da avó, mas estão cientes que a mamãe tá “dodói com coronavírus”. E que permaneçam assim, amenos. Não precisam ter sobre os ombros e cabecinhas a penumbra dos respiradores ou enterros sem parentes. É demais.

A única certeza que tenho nesse momento é que, pra mim, ter Covid-19 não significa que acabou. Para minha sorte, é só uma pausa. Em breve voltaremos com a (intensa) programação normal com direito a renovação do estoque de máscaras e regada a muito álcool em gel. Esse looping tá longe de acabar.

Se cuidem.

*Daniele Britto
Advogada e Jornalista
Mãe, feminista, antirracista e aliada na luta contra a homotransfobia
Pesquisadora no grupo Corpo-território Decolonial (Uefs)
Mestranda PPGE/Uefs

02 de novembro de 2020 - 16H 04m

O dia de finados

Crédito: “Todos os Santos I” – Wassily KANDINSKY

*Por Daniele Britto

Normalmente minhas publicações aqui no blog ocorrem às sextas. Não é uma regra, é uma adequação à realidade desta autora que trabalha e estuda todos os dias.

A publicação de hoje é excepcionalmente proposital. Quero dedicar linhas e entrelinhas deste texto aos que choram não apenas hoje, mas por dias ou noites. Dedico, especialmente, a todes que se foram muito jovens ou aos que, mesmo mais velhos e cansados, tinham fôlego e vontade de permanecer um pouco mais.

Enquanto escrevo, penso em quem se foi apenas por ser preto ou preta ou que, por ser mulher, teve a vida retirada por alguém que não consegue distinguir propriedade de liberdade. Penso nos corpos gays, lésbicos e trans que optaram por serem o que são e foram paralisados pelo preconceito. É impossível não concluir que morte também é pauta política e que, em muitos de nós, respinga sangue de inocentes. 

Algumas pessoas se foram dormindo; outras no meio da tarde, depois de um almoço em família. Mais de 158 mil partiram por um motivo invisível a olho nu que retira dos que ficam o direito aos ritos e homenagens de despedida.

Me solidarizo com você que perdeu uma pessoa querida ou que não tem mais aqui parte de você, como um filho ou filha. Eu não gosto de utilizar o verbo “perder”, apesar de ser o mais usual. “Perder” soa como um desleixo injusto, de quem não sabe cuidar de algo tão especial e caro. Prefiro “não tem mais”. 

Independente do que se crê, se no céu ou no Orum; se na reencarnação, no juízo ou na extinção completa da matéria; se na vida em dimensão paralela ou em tantas outras inumeráveis crenças ou perspectivas, uma coisa é comum entre os que choram: o peso da ausência.

Claro que não é necessário reservar um dia no calendário para chorar de saudade e dor. Ou de medo do vazio que parece jamais ser preenchido. Todos os dias são propensos ao luto e às lágrimas. Todo momento é adequado às preces ou ao silêncio intraduzível.

Não sei qual é a sua dor neste momento. Por quem você chora ou dedica pensamentos. Nem ao menos sou capaz de acompanhar os caminhos das suas memórias que te levam do riso ao pranto numa fração de segundos. Não serei, agora, tão crítica e política como de costume, afinal, também tenho meus encontros com a morte. 

Já fui excessivamente (ir)racional ao achar que dias assim não passavam de mera tradição eclesiástica. Mas, se eu sempre acreditei que os tidos como mortos estavam bem vivos e ativos em outros planos, por qual motivo eu, tão viva, agia como morta, não me permitindo mudar ou ressignificar este dia?

Achei motivação e consolo na solidariedade e na matemática. Em me compadecer com a dor da/dooutra/outro e dividir com ela/ele sua angústia. Mesmo com quem eu jamais vi ou verei, não é difícil essa partilha. É só se dispor ao exercício da alteridade.

Alteridade que gera empatia, tolerância, respeito e nos aproxima transcendentalmente do outro. Fernando Pessoa, quando Bernado Soares, o guardador de livros, disse: “O mundo é de quem não sente”. Tentou justificar que, os que não se apegam a sentimentos e coisas etéreas têm mais sucesso, agem melhor e com maior eficiência. Mas, longe de ser tão prático e absoluto, ao mesmo tempo conclui: “compostos de células  vivendo da sua degradação, somos feitos da morte”.

Eu diria, Bernardo, que somos feitos de vidas. 

*Daniele Britto
Advogada e Jornalista
Mãe, feminista, antirracista e aliada na luta contra a homotransfobia
Pesquisadora no grupo Corpo-território Decolonial (Uefs)
Mestranda PPGE/Uefs

27 de outubro de 2020 - 08H 00m

Justiça Eleitoral anuncia mudanças em seções de votação em Feira de Santana

Os eleitores da Zona Eleitoral 156 em Feira de Santana devem ficar atentos aos locais de votação nas eleições do próximo dia 15 de novembro. Com a desativação e reformas de algumas escolas, foi necessário relocar muitas pessoas.

Na publicação assinada pela juíza eleitoral Dalia Zaro Queiroz, oito escolas sofreram mudanças. Confira abaixo:

Escola Estadual Celita Franca (Campo Limpo/Derba) – Em virtude da desativação da escola, todas as Seções (348, 349, 351) passarão a funcionar em definitivo na UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana);
Escola Municipal Oyama Figueredo (Pampalona) – Devido a reforma, todas as Seções (248, 281, 295, 394, 406, 453) foram transferidas provisoriamente para a Escola Municipal Janete Gomes Medeiros (Rua Laranjeiras do Sul, 32, Loteamento Jardim Romano, Campo Limpo)
Escola Municipal Professora Marília Queiroz da Silva (Nova Esperança) – Com o término da reforma, as Seções (345, 346, 347), que em 2018 funcionaram provisoriamente na Escola Municipal Carlos Alberto do Carmo (Feira IX, Calumbi), funcionarão em definitivo no prédio original, que fica localizado na Rua Tefé, 180, Nova Esperança.
Colégio Estadual Fênix (Conjunto Feira X/Muchila) – As Seções (341, 342, 343, 344) foram transferidas em definitivo para a Escola Municipal Thelma Carneiro (Rua P, Caminho B-XXII, Conjunto Feira X) e as Seções (338, 339 e 340) funcionarão em definitivo no Centro de Educação Infantil Hugo Navarro Silva (Rua Condor, s/n, Muchila)
Escola Municipal Francisco Martins da Silva (Distrito de Maria Quitéria) – Tendo em vista a conclusão da reforma, as Seções (11, 13, 15, 23 e 93), que funcionaram na Escola Alicerce do Saber e as Seções (10, 12, 14, 16 e 87), que funcionaram na Creche Paulino Martins, retornaram em definitivo para o prédio original da escola, que fica localizado na Avenida Pé de Serra, s/n, sede do distrito.
Escola Municipal Firmino José de Brito (Fazenda Malhador, Distrito de Jaguara) – Diante da reforma, as Seções (131, 230) foram transferidas provisoriamente para a Fazenda Conceição, Sítio do Meio (Casa alugada de Nadinho), próximo ao final de linha.
Escola Municipal Colbert Martins da Silva (Distrito de Jaguara) – Devido a reforma, todas as Seções (39, 40, 41, 42, 121 122, 135 e 141) foram transferidas provisoriamente para o Colégio Estatual de Jaguara (Praça Matriz, sede do distrito)
Colégio Estadual de Jaguara (Distrito de Jaguara) – Todas as Seções (43, 44, 45, 46) foram transferidas provisoriamente para o Clube Social de Jaguara (Praça Matriz, sede do distrito).

App e-Título

A Justiça Eleitoral orienta que todos os eleitores baixem o aplicativo e-Título e verifiquem se será lançada uma versão mais atualizada do aplicativo, na semana que antecede a eleição.
O app pode ser baixado para smartphone ou tablet, nas plataformas iOS ou Android. Após baixá-lo, basta inserir os dados pessoais.

Esse ano ficou mais fácil acessar o aplicativo, agora é possível entrar com o número do CPF, sem precisar inserir o número do título de eleitor. O app também se tornou acessível para pessoas com deficiência visual.
No app é possível consultar zona e seção eleitoral, assim como consulta de débitos e emissão guias de pagamentos, expedição de Certidão de Quitação Eleitoral, inscrição para ser mesário voluntário, disponibilização da via digital do título de eleitor, que poderá ser utilizado como documento único no dia da votação, desde que esteja com a foto coletada. Para o eleitor que ainda não fez o cadastro biométrico, é necessário apresentar um documento oficial com foto sempre que for utilizar o título digital.

Também no aplicativo, é possível justificar ausência no dia da eleição, se, exclusivamente no dia da eleição, o eleitor de Feira de Santana estiver fora do município. Neste caso, o aplicativo coletará a localização geográfica do eleitor, comprovando que o mesmo não está no município.
Se o eleitor não justificar no dia da eleição, o mesmo terá o prazo de 60 (sessenta) dias, a contar de cada turno de votação, para justificar a ausência, também no aplicativo e-Título. Neste caso, entretanto, será necessário o eleitor juntar um documento para comprovar a ausência. (Ex: atestado médico, passagem aérea, declaração da empresa)
Acrescente-se que o voto dos eleitores a partir de 70(setenta) anos e dos que têm menos de 18 anos completos é facultativo, logo os mesmos não precisam justificar a ausência às urnas.
Os dados eleitorais, incluindo o novo local de votação e seção, também poderão ser consultados no site do TRE-BA (http://www.tre-ba.jus.br/), ligando para (71) 3373-7000 ou falando com a atendente virtual ‘Clara’, por meio do WhatsApp – (71)99602- 7777, serviço que funciona 24 horas, em todos os dias da semana.

24 de outubro de 2020 - 18H 06m

A gente se acostuma a tudo?

Por Daniele Britto*

Eu tenho verdadeira fascinação pela escrita de João Ubaldo Ribeiro. Foram em seus livros e crônicas que, por muitas vezes, compreendi e me indignei com a realidade – mesmo que de forma ficcional –  trazida pelos marcadores de classe e raça no Brasil.

Uma das minhas inquietações preferidas trazidas por Ubaldo dá título a uma de suas crônicas (ele era o rei dos títulos!): “A gente se acostuma com tudo”. Na narrativa que é bem pessoal, entre críticas e mandingas, João conta a história de uma muda de pinhão-roxo que importou da Bahia para o Rio de Janeiro, com a finalidade de espantar mau-olhado.

Ele descreve genialmente a trajetória da muda de planta que, inicialmente desenganada, após um período, surpreendeu o escritor e transformou-se em “uma muralha de pinhões-roxos”, pois se acostumou com as diversidades causadas pela partida de Itaparica, pela quase morte ocorrida pelo excesso  de adubo e tantos outros melindres clorofiláticos.

Claro que João Ubaldo não é tão simplório e nem mesmo era dado a escrever metáforas ingenuamente etéreas e transcendentais. Logo após a narrativa do pinhão-roxo ele inicia sua crítica à nossa capacidade de se acostumar com tudo, principalmente com o pior. Sejam leis e benefícios que abracem as classes dominantes, seja a precarização da qualidade de vida do trabalhador ou a degradação contínua do meio ambiente, nós, de fato, nos acostumamos com tudo.

Há quem se acostume com um péssimo relacionamento afetivo, com um trabalho excessivamente burocrático ou com uma sequência de pedidos péssimos que chegaram pelo Ifood. Também existem pessoas que se acostumam a aridez da vida, como estratégia de sobrevivência. Para estas, não há opção: ou se acostumam e se adaptam, ou morrem.

Dentro de um macrocontexto, as mazelas e injustiças sociais, de certa maneira, mantêm-se ativas exatamente pela nossa capacidade de se acostumar. E não falo aqui da empregada doméstica que pega quatro conduções para chegar ao trabalho quase escravo e nem mesmo da família que perde uma criança de 7 anos vítima de bala perdida dentro de casa. Eu falo de mim e do meu universo teórico em curso, falo com os meus colegas de profissão, com a maioria dos amigos, parentes e conhecidos que vivem suas vidas nas quais as maiores preocupações passam bem longe de ter água potável ou comida no prato. Eu falo com quem tem a possibilidade de fazer a coisa, de fato, ser diferente.

Os/As aguerridos/aguerridas, aparentemente, são poucos/poucas. Não são muitos/muitas, também, aqueles/aquelas que utilizam da sua visibilidade e influência para causar aquele desconforto essencial, escancarando a realidade e promovendo aquele diálogo tão incômodo, que pode simbolizar um importante rompimento daquele par com a Primeira Lei de Newton.

O que posso afirmar, sem dúvidas, é que as/os insurgentes somam grandes números. São milhares. Milhões. Talvez estejam só esperando um sinal de que não estão sozinhos/sozinhas. Há vozes que ecoam longe, mas que já estão se aproximando. São vozes potentes que falam de mundos e necessidades, na maioria das vezes, desconhecidas pra mim e pra você. Se você ainda não ouviu nenhuma dessas vozes, em algum momento, vai ouvir.

A verdade, meu querido João, é que tem muita gente por aí que, como você, não se acostuma.

*Daniele Britto
Advogada e Jornalista
Mãe, feminista, antirracista e aliada na luta contra a homotransfobia
Pesquisadora no grupo Corpo-território Decolonial (Uefs)
Mestranda PPGE/Uefs 

Feira de Santana / 16 de outubro de 2020 - 18H 44m

Exu e as eleições no nosso Estado nada laico

Por Daniele Britto

Em outubro de 2020, a  Revista Exame realizou uma tabulação dos dados atualizados do TSE e concluiu que existe um aumento de 34% no número de candidatos evangélicos nas eleições de 2020. Ao todo, são 4.915 inscrições, entre candidatos e candidatas a prefeitos/prefeitas e vereadores/vereadoras. E olhe que eles só levaram em consideração candidatos e candidatas que carregam a “insígnia” de pastores e pastoras.

Contabilizando os dados, a revista também concluiu que, no país, apenas 210 candidaturas se referem a candidatos católicos, 63 candidaturas são ligadas às religiões de matriz africana e três ao judaísmo. E em Feira de Santana, obviamente, o cenário não é diferente.

Quando a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Silva afirma que “É o momento de a igreja ocupar a nação” ou o presidente Bolsonaro diz que vai indicar um ministro “terrivelmente evangélico” para o STF, é algo que, de fato figura-se como “novo”, dentro do nosso Estado laico ou é fruto exclusivo dos ideais da direita? Creio que não.

Em 2008, o ex-presidente Lula foi ao Vaticano assinar um acordo bilateral com a Santa Sé no qual previa a obrigatoriedade do “ensino religioso católico e de outras confissões” nas escolas. Para piorar, o acordo também permitia que a Igreja Católica suprimisse direitos trabalhistas de sacerdotes e que planejamentos urbanos levassem em conta espaços para fins religiosos. Comissões foram formadas para questionar o acordo. A Procuradoria Geral da República se manifestou desfavorável ao acordo. E em 2017 o STF decidiu que sim, o ensino religioso pode ser de caráter confessional. Você consegue enxergar claras violações ao artigo 19 da Constituição? Eu também.

Uma pequena observação: não se engane. O PT também já tem orientações claras do seu líder maior para que o partido se aproxime dos evangélicos em todo o país. Seria, no mínimo, burrice agir de forma diferente.

Mas, qual a grande novidade de tudo isso? Absolutamente nenhuma. Estes dados revelam o que acontece desde 1550, quando crianças órfãs eram mandadas de Portugal para o Brasil para catequizar e promover o branqueamento da população do país. Paulo Rumualdo Hernandes em seu artigo “Meninos órfãos vindos do Reino para a América Portuguesa: mestiçagem cultural” relata recortes importantes dessa importação de crianças e o projeto dos jesuítas de “purificação” de um povo

Verdadeiramente, era uma dupla vantagem tais remessas, pois, além de trabalharem para os jesuítas nesta interação entre crianças indígenas e crianças portuguesas (crianças rapidamente aprendem um novo idioma e era o que queriam das crianças indígenas), Portugal também se livrara daqueles “problemas” que era ter órfãos pelas ruas causando problemas à Coroa.

O que se conclui com estas informações? O Brasil não é e nunca foi um Estado laico e sempre teve uma religião. “Deus” está, até mesmo, no texto do preâmbulo da Constituição que relaciona a promulgação à divindade cristã, quando diz “sob a  proteção de Deus”. O mesmo deus está nas nossas cédulas de dinheiro que trazem a frase “Deus seja louvado”.

Prossigo trazendo algo importante: dados do censo de 2010, computam que o pentecostalismo é majoritariamente a religião mais negra, mais pobre e mais presente nas periferias da cidade. Negros e pobres são a maioria da população do Brasil e a escolha da religião cristã é fruto o apagamento de identidades tangenciado pelo mito da democracia racial e demonização das religiões de matrizes africanas.

E quando olhamos os líderes evangélicos mais ricos do país tudo fica, literalmente, mais claro: homens brancos, numa clara reprodução das estruturas de poder que nos sustentam há séculos. Valdemiro Santiago, o único negro que estava elencado no ranking dos 6 líderes evangélicos mais ricos, já foi retirado da lista.

Uma informação relevante pra qualquer estratégia política é saber que, conforme o IBGE, em 2022, o número de católicos deve encolher para menos de 50% da população, decaindo em 10 anos para 38,6%. Já a previsão para os declarados evangélicos é que, em 2032, alcance os 39,8%, superando assim os católicos.

Não é por acaso que o presidente Jair Bolsonaro, que se dizia católico agora se batizou “nas águas”, aproximando-se dos evangélicos e transitando neste limbo de conveniência entre as duas vertentes. Católico ou evangélico? Os dois. Ou nenhum dos dois, se é que você em entende. E não falo apenas de Bolsonaro. Falo de diversos outros políticos e candidatos que utilizam a religiosidade como mote e Deus como cabo eleitoral.

Com toda certeza, pelo menos em Feira de Santana, não veremos nenhum candidato em campanha saudando Pomba Gira Sete Encruzilhadas no carro de som da carreata, nem vestindo um alaká africano ou soltando um sonoro “Eparrey, Oyá” no programa eleitoral veiculado às quartas-feiras. Nem mesmo um discreto fio de contas vai aparecer sem querer, ao contrário de bíblias embaixo do braço, versículos decorados e terços no pescoço.

Erra quem pensa que a reprodução das desigualdades e manutenção das estruturas de poder é um ato unicamente político e distante da subjetividade. Se optássemos por valores civilizatórios negro-africanos, também viveríamos longe de um estado laico, mas tudo seria bem diferente, acredito.

E nesta sexta-feira de calor intenso, saúdo Exu que traz consigo o princípio dinâmico da vida. Exu é o mensageiro entre dois mundos: este, em que os homens rogam e o outro em que os deuses acodem. Ou não.

Em um mundo mítico-ideal, este seria o meu candidato. Mas, ele, que é real, não precisa nem do meu e nem do seu voto pra fazer o mundo girar. Ainda bem.

Daniele Britto
Advogada e Jornalista
Mãe, feminista, antirracista e aliada na luta contra a homotransfobia
Pesquisadora no grupo Corpo-território Decolonial (Uefs)
Mestranda PPGE/Uefs

 

Feira de Santana / 07 de outubro de 2020 - 17H 34m

Cesta básica em Feira de Santana está 4% mais cara

A cesta básica de Feira de Santana registrou o maior valor desde que começou a ser acompanhada em junho de 2019. Em setembro de 2020, o valor da cesta básica apurado foi de R$ 388,77 representando um aumento de 4,06% em relação ao mês de agosto. Assim, para comprar os mesmos produtos básicos, o feirense precisou gastar R$ 15,16 a mais do que despendeu no mês anterior.
De acordo com a equipe de professores e alunos da UEFS que trabalha no projeto “Conhecendo a Economia Feirense: O custo da Cesta Básica de Feira de Santana”, esse incremento era esperado, em função da alta dos preços das commodities alimentares (em especial arroz e soja).
Dos 12 produtos pesquisados, sete apresentaram preços médios superiores no mês de setembro quando comparados aos preços do mês anterior. O produto vilão da alta agora foi o óleo de soja, que teve seu preço médio elevado em 47,45% nesse mês.
Além do óleo de soja, também foi observada majoração nos preços do arroz, açúcar, leite, carne, tomate e manteiga. as maiores altas no mês, excluindo-se o caso do óleo de soja, foram verificadas no o arroz (25,51%), açúcar (17,62%), leite (9,00%) e carne (7,96%).
Entre os produtos que registraram queda de preços destacam-se: banana-da-prata (-6,68%); farinha de mandioca (-3,99%); feijão (- 2,89%) e pão (-2,35%).
Quanto ao comprometimento do valor da cesta básica no salário mínimo líquido vigente em setembro de r$ 966,63 (valor obtido após os descontos previdenciários que incidem sobre o valor bruto), constata-se um percentual de 40,22%.
Trata-se de um comprometimento maior que o calculado em agosto (38,65%), o que revela uma perda do poder aquisitivo do trabalhador.

Para o administrador e educador Financeiro Leonardo Firmo, o feirense terá que fazer alguns esforços para conseguir economizar ainda que minimamente. Ele sugere que o consumidor dê preferencia pela substituição de certas marcas de produtos para garantir o menor preço. Essa economia fará diferença no montante final.
Outra dica que Leonardo dá é ficar de olho em aplicativos que disponibilizam preços de produtos para que o consumidor possa comparar onde determinado produto está mais barato.
O educador financeiro sugere ainda que um grupo de amigos ou familiares se reúnam para comprar os produtos não perecíveis no atacado. Normalmente, há um bom desconto para produtos vendidos em fardos.   

02 de outubro de 2020 - 20H 13m

Dos Jogos Públicos à Carol Solberg – o silêncio impossível

Por Daniele Britto*

Quem acredita que o universo do esporte é espaço blindado onde não cabe nada além das emoções que fazem bater o coração do torcedor ou torcedora está certo/a. Pelo menos, era assim que queriam que você pensasse na época do Império Romano com os chamados Jogos Públicos e a política do Pão e Circo, que tinha como clara finalidade retirar o foco do seu impopular Imperador. Qualquer semelhança com a atualidade não é mera ficção.

Obviamente, no princípio das atividades esportivas, estas não tinham uma finalidade delimitada. Estavam sempre atreladas a instituições militares, educacionais e até religiosas. Esclareço: podiam até não ter uma finalidade competitiva delimitada, mas sempre tiveram motivações e valores impregnados que passavam bem longe de qualquer vestígio de neutralidade.

Exemplos? O surgimento das Escolas Ginásticas Europeias no século XIX, inspiradas pelo Iluminismo, tinham como objetivo o desenvolvimento pedagógico, higiênico (Homo hygienicus) e social do homem. Estas Escolas foram utilizadas na preparação militar, catapultadas pelo nacionalismo, bem como serviram militarmente para as guerras. Mas, vamos avançar. Acho que este “rolê” rápido até o século XIX já deixou claro que neutro, nem sabonete.

Agora, quero chegar ao dia 06 de outubro de 2020. Sim, quero sair do passado e ir ao futuro, no dia do julgamento da Carol Solberg pelo STJD, sobre a denúncia de descumprimento da cláusula 3.3, do Anexo V, do Termo de Participação 2019/2020 do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia, violando assim dois artigos do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD). Durante a entrevista a um canal de TV por assinatura, a atleta gritou “Fora Bolsonaro”.

Lanço aqui dois questionamentos: qual seria a justificativa para cercear opiniões de esportistas? O que tanto teme a FIA (Federação Internacional de Automobilismo), a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), o COI (Comitê Olímpico Internacional) a FIFA (Federação Internacional de Futebol), só para citar as mais conhecidas? Outra: Existe melhor momento para se posicionar ou dar voz a uma causa do que quando os holofotes estão voltados para você?

Com uma resposta só, se responde às duas perguntas: os silenciamentos são propositais para que se mantenham as estruturas de poder da comunidade política. Sim, somos uma comunidade política, com direitos civis, direitos políticos. E ter ciência disso é algo muitíssimo poderoso e que reflete diretamente na ideia e limites da soberania.

Não dá pra falar muito profundamente sobre ciência política aqui e eu nem ousaria tanto. Porém, gostaria de deixar claro que o posicionamento político de atletas e equipes não é algo novo na história do esporte. Relato alguns dos meus preferidos: Quando Jesse Owens frustrou os planos de Hitler nos Jogos Olímpicos de Berlim na década de 30; Muhammad Ali, sempre; A Democracia Corinthiana, claro; O Rugby sul africano utilizado por Mandela; as jogadoras da US Soccer (beijo,Rapinoe) quando processaram a Federação de Futebol dos Estados Unidos por discriminação de gênero, já que ganhavam mais nos campos e menos nas contas bancárias; Marta (rainha!) e Cristiane do SFC, sem dúvidas, que além da luta pela igualdade de gênero, também usam as suas vozes contra a LGBTQIA+fobia; encerro a relação – não meu rol de atletas e fatos – com Lewis Hamilton, que dispensa maiores comentários.

É impossível os/as atletas não se posicionarem politicamente em seus clubes ou partidas, pois, o esporte é um ambiente que reproduz fielmente as  desigualdades, preconceitos e padrões da colonialidade que permeiam nossa sociedade. E todo mundo sabe disso. Até o mais fanático torcedor ou fã. Contudo, para alguns, é bom que tudo se mantenha assim. Nenhuma surpresa, não é mesmo?

E o que se sobreleva mais neste caso da Carol? O direito contratual pactuado entre a atleta, a confederação e os patrocinadores ou o direito fundamental da liberdade de expressão? Em um sistema capitalista, obviamente e sempre, os contratos pesam sobremaneira. E quando este patrocinador faz parte da administração pública indireta no Brasil de 2020, tudo pode ser pior.

Carol atua em um ambiente extremamente machista e homofóbico, onde as mulheres lutam todos os dias por igualdade de gênero. Ela não está recebendo apoio da classe e será julgada por cinco homens, que tem como suplentes, outros dois homens. A Comissão Nacional de Atletas de Vôlei de Praia, presidida pelo atleta Emanuel, já lhe virou as costas. Da Confederação Brasileira de Vôlei que afirmou em bom racistês que Carol denegriu a modalidade, não há que se esperar nada. O cenário é desafiador, mas pode surpreender.

O que não surpreende, de fato, é termos uma mulher na fogueira.

Daniele Britto
Advogada e Jornalista
Mãe, feminista, antirracista e aliada na luta contra a homotransfobia
Pesquisadora no grupo Corpo-território Decolonial (Uefs)
Mestranda PPGE/Uefs

Feira de Santana / 25 de setembro de 2020 - 16H 37m

Quem é você no balaio do Magazine Luiza?

Por Daniele Britto

Nos últimos dias, acompanhei uma diversidade de opiniões sobre algumas questões envolvendo gênero, raça e sexualidade, marcadores que fazem parte dos meus estudos e que tem relação direta com os direitos humanos, também objeto das minhas pesquisas. Se você se surpreendeu em saber que direitos humanos vai além do “leve o bandido pra sua casa” recomendo que prossiga com a leitura.

Três temas foram, particularmente, relevantes: a decisão liminar do STF que permitiu que já nas eleições de 2020 valesse a implementação das cotas raciais proporcionais de distribuição de verbas públicas para financiamento de campanha e do tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão; a seleção de vagas para trainee do Magazine Luiza que abriu vagas exclusivamente para negros e, por último, o caso do estudante gay barrado em um mercado em Salvador por conta do short curto.

Aparentemente estes três acontecimentos não tem conexão, mas isso é só aparentemente. Farei as minhas considerações utilizando como mote as repercussões e características de cada fato.

Conforme matéria publicada no Jornal Folha de São Paulo em 23/09/2020 (encurtador.com.br/eqEIQ), diversos líderes partidários foram contra a aplicação imediata das cotas raciais, alegando ser inexequível tal decisão, posto que as cotas já foram “divididas” internamente. Obviamente alegaram isso porque não quiseram deixar (ainda mais) explícita a necessidade da manutenção do racismo estrutural que impede uma representatividade que se aproxime da realidade.

A possibilidade de remover negros e negras dos papéis de subalternidades impostos  há séculos incomoda. Dados do projeto “Democracia e Representação nas Eleições de 2018: Campanhas Eleitorais, Financiamento e Diversidade de Gênero” (https://tinyurl.com/y2qdq6s3 ) realizado pela faculdade de Direito da FGV de São Paulo mostra o quanto as candidaturas de homens negros e mulheres negras são subfinanciadas, mesmo entre aqueles considerados competitivos. Um exemplo é que homens brancos representam 43,1% de todos os candidatos, mas concentram cerca de 60% das receitas de campanha. Qual a surpresa dentro da nossa colonialidade patriarcal? Nenhuma.

Na mesma matéria da Folha, outra alegação chama a atenção: um dos líderes afirma que as acusações de candidaturas laranjas de mulheres são injustas, pois, não existem mulheres que queiram se candidatar e as que se candidatam, não tem voto. Considerando-se que as mulheres são mais da metade da população brasileira e representam mais de 52% do eleitorado, o que justificaria apenas os 15% de representação legislativa federal? Destaco que a mesma pesquisa informa que o Brasil tem uma dos piores taxas da presença de mulheres no Parlamento, o que não causa surpresa.

E a seleção para trainee do Magazine Luiza? Inicialmente, vamos aqui nos despir de qualquer espírito de justiça social efetiva, por favor! A ideia da empresa é válida, não há dúvidas. Como a própria gestão informou, pretos e pardos representam 53% dos funcionários da empresa, mas apenas 16% deles ocupam os cargos de chefes, diretores ou gerentes. Esta atitude não é exclusividade da empresa. A multinacional Bayer também tem um processo seletivo chamado “Liderança Negra, muito semelhante, bem como a 99Jobs e Accenture. Ações afirmativas são ótimas para a imagem de uma empresa. As ações da Magalu valorizaram de 2,6% no último dia 22 de setembro. Repito: esta foi uma ação acertada e positiva, sem dúvidas.
Sobre esta seleção, a grande polêmica gira em torno das alegações risíveis de “racismo reverso”, inclusive já rejeitadas pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). A sobreposição da lógica capitalista em relação a uma ação afirmativa mostra o quanto a luta pela igualdade racial está longe de acabar. Em um país no qual a igualdade de oportunidades alcança índices de discrepância exorbitantes, o mito da democracia racial ecoa nas vozes de quem sempre teve a cor como privilégio.

Sobre o caso do estudante de psicologia barrado no Walmart em Salvador por conta, supostamente, do tamanho do short, são necessárias algumas pontuações: era um homem negro, gay e pobre. Não, está não é uma retórica cansada e “manjada”. Esta é a realidade imposta pelos nossos padrões brancos cis-hétero-cristãos que querem permanecer delimitando violentamente nossos corpos.

Homem (ou mulher) tem que ser heterossexual. Homem não usa short curto, pois isso não condiz com a cisgeneridade masculina. O homem negro carrega consigo uma suposta culpa inerente que sempre o desloca para a marginalidade. O marcador classe (homem pobre) soma-se aos demais e fortalece ainda mais as vigilâncias da colonialidade, tão vivas e limitadoras. Ser gay é normal. Assumir-se gay, por todos os (poucos) motivos já expostos, é difícil. Ser preto e assumir-se gay acarreta consequências mais nocivas e, sem dúvidas, mais perigosas.

“Ah, mas o segurança também era negro”, ouvi de alguém. Este segurança, apesar de  negro, representa a força policial de um Estado que tinha como projeto apresentado no 1º Congresso Mundial das Raças, realizado em Londres no ano de 1911, uma estimativa que em 2012, não teríamos mais negros no Brasil.

O fato ocorreu 23 anos após a assinatura da Lei Áurea e é inegável que os seus fundamentos até hoje permeiam as nossas estruturas – brancas – de poder. Um exemplo: a Polícia Militar do Rio de Janeiro foi a primeira instituição policial criada no país, em 1809. O motivo foi claro: o temor de que o que ocorreu na Revolução do Haiti entre 1791 – 1804 “contaminasse os negros brasileiros”.

E o que aconteceu no Haiti? Os escravos se rebelaram, mataram e exterminaram os seus escravizadores franceses e o Haiti tornou-se o único país latino-americano a conquistar a independência com uma revolta feita por escravizados. Este “sucesso” inspirou aqui no Brasil a Revolta dos Malês, por exemplo, mas esta viagem histórica fica pra outro texto. Por que citei a PMERJ? Conforme dados do Monitor da Violência e IBGE, 80% dos mortos pela polícia no Rio de Janeiro são negros e pardos. Não, não é coincidência é história.

É urgente uma autocrítica profunda e lúcida das nossas existências. Se branco, se negro, se índio, homem, mulher, de todas as sexualidades existentes é necessário entender passado e presente e quem somos ou simbolizamos na sociedade.

O texto está escrito e cenas como as que relatamos aqui se repetem capítulo após capítulo na alucinante sociedade do espetáculo descrita por Guy Debord.

E então, qual é o seu papel?

 

Daniele Britto
Advogada e Jornalista
Mãe, feminista, antirracista e aliada na luta contra a homotransfobia
Pesquisadora no grupo Corpo-território Decolonial (Uefs)
Mestranda PPGE/Uefs

Feira de Santana / 18 de setembro de 2020 - 20H 48m

As feiras de Feira

As feiras de Feira
Foto: Acervo Adilson Simas

Por Daniele Britto*

Institucionalizou-se que, hoje, dia 18 de setembro, é aniversário da cidade de Feira de Santana. Minha cidade e talvez também a sua, que me lê. Motivos para comemorar? Infelizmente, não consigo elencar um que seja.

Antes de me pixarem de pessimista nata ou canceriana dramática, explico: Feira de Santana não envelhece com o tempo. Ela vem desaparecendo em ritmo acelerado, cada vez mais distante dos seus. Uma senhora quase sem memórias e perdida de si. Certamente, já se esqueceu dos povos indígenas que ocupavam este território, os Paiaiás, que foram exterminados sem pudor, em nome da colonização e do desenvolvimento do comércio, claro. Mas, hoje, não vou tão a fundo nas entrelinhas da velha Feira.

Antes que me acusem de retrógrada e utópica saudosista, mais uma vez, explico: a cidade que tem em seu nome a origem da sua concepção e relevância econômica, o grande motivo do destaque entre tantas outras agoniza, em um desalinho que pende entre a incompetência e a irresponsabilidade; entre a subserviência burra a determinados grupos em detrimento de uma coletividade.

Quando me deparei com a já inevitável e sorrateira retirada das barracas dos ambulantes do centro da cidade, mais uma vez, me perguntei: desde quando Feira deixou de ser uma feira? Logo em seguida, no noticiário local, ouvi a frágil justificativa de um Secretário do município que nitidamente não sabe o que faz mas sabe muito bem a quem obedecer.

Tentar desvencilhar a identidade e característica da cidade de Feira de Santana da estrutura de uma feira livre, da alma de feirantes que temos é uma afronta irresponsável que não beneficia nem os maiores interessados nessa “limpeza”. Achar que ser uma grande feira é associar-se ao retrocesso é uma grande prova da limitação técnica e até de capacidade cognitiva, eu diria. Acreditar que é impossível uma harmonia entre o comércio formal e informal é típico daqueles que governam para poucos e não para todos.

Para alguns estudiosos, as feiras livres existem há mais de 500 anos antes de Cristo. Já o comércio informal abriga mais de 60% dos trabalhadores do país! Não há como não levar isso em consideração em uma cidade que se chama FEIRA de Santana. Não dá pra achar que tirar os ambulantes das ruas – solo de qualquer feira – e colocar em um local chamado de shopping (que péssima proposta esse estrangeirismo disfarçado de ascensão) vai contribuir para a mobilidade e fruição das atividades comerciais.

Comparar a fala política (disfarçada de promessa de progresso) do citado Secretário responsável pela retirada dos ambulantes com a de um engenheiro como Allan Pimenta, mestre pelo Masdar/MIT por exemplo, é um nítido exemplo do grande equívoco que é menosprezar o aspecto técnico de uma gestão. E os grandes prejudicados disso tudo são aqueles que não têm como escolher quem ocupa os cargos que não são eletivos; são todos e todas que fomentam e usufruem dessa informalidade característica que não vai morrer jamais!

Esconder as feiras e os informais dentro de uma estrutura fechada batizada de shopping é um apagamento que se repete na nossa história. Já tivemos os chamados currais modelo e já fomos capazes de comercializar, no meio das ruas, mais de 100 mil cabeças de gado em um ano. No gogó, na pechincha. Para onde foi todo esse potencial e essa força comercial?

Ser feirante está nas raízes de Feira de Santana e isso deve ser levado em consideração. Verdadeiramente precisamos de um projeto urbanístico tecnicamente democrático, que leve em consideração o patrimônio imaterial que nos forja. Um projeto inclusivo, feito para pessoas e não para ficar bonito só na peça publicitária do portfólio eleitoral.

É necessário elaborar um projeto multidisciplinar, alinhado com a perspectiva de que a valorização de uma cultura também faz parte do desenvolvimento econômico de uma cidade ou região. Identidade deve ser premissa de qualquer projeto de requalificação e, claro, estar dentro de planejamentos urbanos de médio e longo prazo. Mas, pra isso, é preciso ter competência técnica, executiva e, obviamente, capacidade de dialogar.

Não somos um shopping, my friends. Somos de uma feira.

*Daniele Britto
Advogada e Jornalista
Mãe, feminista, antirracista e aliada na luta contra a homotransfobia
Pesquisadora no grupo Corpo-território Decolonial (Uefs)
Mestranda PPGE/Uefs

Feira de Santana / 18 de setembro de 2020 - 14H 42m

Feira de Santana comemora aniversário entregando reforma do Casarão Olhos D´agua

Feira de Santana comemora aniversário entregando reforma do Casarão Olhos D´agua
Foto: ACM

Feira de Santana celebra hoje 187 anos de emancipação política e a prefeitura da cidade reinaugurou o Casarão Olhos D’Água, imóvel de mais de 300 anos, tido como a primeira habitação erguida no município, que foi reformado.
O espaço, que um dia foi pousada obrigatória de vaqueiros e tropeiros que cortavam os sertões tangendo boiadas, agora abrigará um memorial de Maria Quitéria, heroína da Independência do Brasil, e será também o espaço sede do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana e das academias de Letras, Artes, Educação e Medicina. O casarão será um núcleo de preservação da memória e estímulo à ciência e cultura locais.
Restrita aos membros envolvidos no projeto, a solenidade de inauguração contou com hasteamento de bandeiras e execução dos hinos municipal e nacional. A restauração do espaço, situado na Rua Dr. Araújo Pinho, custou mais de R$ 331,6 mil e seguirá sob administração da Fundação Municipal Cultural Egberto Costa. Professor da Uefs e secretário municipal de Planejamento, Carlos Brito falou sobre a importância da data e dificuldade da comemoração deste aniversário sem a possibilidade da tradicional presença das pessoas.
O município decretou ponto facultativo nas repartições municipais, mas o comércio da cidade funcionou normalmente.

 

Com informação da SECOM e Correio

Feira de Santana / 15 de setembro de 2020 - 23H 32m

Justiça nega liminar que pedia suspensão da saída dos ambulantes das ruas de Feira

Justiça nega liminar que pedia suspensão da saída dos ambulantes das ruas de Feira
Foto: Nei Silva/Acorda Cidade

Por Dandara Barreto

A justiça negou a ação com pedido de liminar que visava suspender a retirada dos comerciantes das ruas de Feira de Santana.
O advogado Rodrigo Lemos, que representa a categoria, informou que vai recorrer. Segundo ele, a decisão cometeu o erro técnico de desconsiderar o parágrafo primeiro do artigo da lei popular, por isso entrou com recurso em Salvador.
No último dia 9 de setembro, a prefeitura publicou um decreto no Diário Oficial do Município, estipulando o prazo até esta terça-feira(15) para os ambulantes desocuparem as ruas do centro da cidade. Parte do decreto dizia que “Em razão da ordem pública, interesse da acessibilidade e urbanização, determina a desocupação de qualquer tipo de equipamento usado nas vendas”.
A determinação do poder público tem gerado a insatisfação da categoria que alega que não tem interesse em ir para o shopping popular, pois além de temerem o baixo movimento no local, reclamam da estrutura precária do centro recém construído e do aluguel dos boxes.
Para o advogado que representa a categoria, o Shopping Popular não tem condições de absorver todos os ambulantes que estão nas ruas da cidade, uma vez que estudos e um parecer técnico feito por professores da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) apontam uma contagem parcial de mais de cinco mil ambulantes nas ruas do centro de Feira.
“Esta ação vai trazer consequências muito graves para Feira de Santana. Apenas 1.400 ambulantes irão para o shopping popular, as demais pessoas entrarão para as estatísticas dos  milhares de desempregados. Essas pessoas estão na rua, trabalhando há muitos anos. Sem um lugar para trabalhar, neste momento de pandemia, certamente não vão conseguir emprego”. Afirma.
O secretário de Trabalho, Turismo e Desenvolvimento Econômico, Antônio Carlos Borges Júnior, informou que os ambulantes que não se cadastraram no shopping popular serão relocados para o centro de abastecimento. De acordo com ele, a prefeitura fez um levantamento de 1.800 ambulantes com barracas fixas nas ruas de Feira de Santana para fazer o projeto do shopping popular. Ainda segundo Borges júnior, cada barraca foi fotografada, junto com os seus proprietários, que também tiveram suas biometrias cadastradas para que fosse apresentado ao Ministério Público.
Rodrigo refuta o levantamento citado pelo secretário e diz que este levantamento da prefeitura foi feito em 2018, num contexto econômico completamente diferente.
“O desemprego aumentou e muitas pessoas foram trabalhar como vendedores ambulantes para poder se manter ao longo destes dois anos”. Analisa o advogado.
Borges Júnior informou que o decreto não foi surpresa para ninguém. De acordo com ele, o município já falava sobre a relocação no início do ano e que o município já havia tratado do assunto 30 dias antes da publicação do decreto. O secretário pontuou que houve muitas flexibilizações com relação aos pagamentos, como carência de 8 meses para pagar, além da liberação da linha de crédito para os ambulantes.
De acordo com a prefeitura, a inauguração do Shopping Popular vai acontecer no próximo dia 21 de setembro.

 

Opinião / 11 de setembro de 2020 - 15H 05m

E essas eleições?

Por Daniele Britto

Mais uma eleição municipal se aproxima. Aquele burburinho típico das disputas pelo poder nas cidades do interior, este ano, vai ser diferente. Na verdade, este ano vai ser o mais diferente entre tantos que já adormecem nas nossas memórias e os que ainda se aguarda com certa expectativa. Mas, expectativa de que, mesmo?

Observando e dialogando com diversos amigos, a pergunta mais recorrente dos últimos tempos é: “E essas eleições?” Percebo que diante das opções apresentadas nas convenções partidárias, os sentimentos se dividem claramente entre desolação, incredulidade, insatisfação e grande apatia. Poucos são os esperançosos e animados, mas eles existem.

Destaco também a presença de um grupo o qual intitulo “ os confortáveis”, que são aqueles e aquelas que já tem o seu voto comprometido, por motivos de “tenho um cargo/meu pai tem um cargo/minha tia tem um cargo e não abrirei mão disso”. Ora, é de conhecimento público [talvez, menos do Ministério Público] que, em Feira de Santana, pra arrancar dente ou ser “olheiro” remunerado dentro de equipamento público, tem lugar pra [quase] todo mundo.

Penso que este novo perfil de eleitor/a ainda seja um reflexo das últimas eleições presidenciais e sua polarização que ainda repercute nos almoços de família e nas mesas dos bares, locais que, antes, simbolizavam ambientes onde as pautas políticas eram mais secundárias. A vitória de uma proposta conservadora-hipócrita [que já causa arrependimento em alguns poucos] sobre uma esquerda que não tem mais brilho [e moral, no sentido mais tacanho que sua mente alcance] deixou marcas em muita gente. E um cansaço generalizado.

O que nos oferta hoje o cenário político feirense para as próximas eleições reproduz majoritariamente – observe, eu não disse totalmente – estruturas de poder hétero-patriarcais, brancas e cristãs que se revezam no poder há séculos. Portanto, não há nenhuma novidade nesse bonde, que consegue, entre tantas proezas, transformar o adjetivo “novo” em sinônimo de “antigo”.

O jogo está muito claro, as peças estão postas, mas ainda é difícil reagir, escolher e, acima de tudo, acreditar. Alguns discursos e “propostas” são facilmente rechaçáveis quando se tem alguma posição política e ideológica fincada em valores mais universais, que transitam, talvez, entre uma ideia de Estado de bem-estar social e as concepções de “Bem-Viver”. O oposto (infelizmente) também é realidade: quando se detém uma noção de Estado teocrático cristão no qual a bíblia deve ocupar o lugar da Constituição como “solução” e controle dos corpos, qualquer discurso antagônico já se torna intragável.

De toda sorte (ou azar), votarei. Eu tenho que votar. E você também. Na urna, não depositarei emoções, longe disso. Meu voto será fruto de uma análise fria, minuciosa e, claro estratégica. Tádifícil, mas escolher é preciso. Voltaremos a conversar sobre isso.

E que Feira vença!

*Daniele Britto
Advogada e Jornalista
Mãe, feminista, antirracista e aliada na luta contra a homotransfobia
Pesquisadora no grupo Corpo-território Decolonial (Uefs)
Mestranda PPGE/Uefs

11 de setembro de 2020 - 12H 25m

PERSONAGENS DE FEIRA: Conheça a história de Virna Jandiroba

PERSONAGENS DE FEIRA: Conheça a história de Virna Jandiroba
Foto: Getty Images

Por João Guilherme Dias

Tenho certeza que você já ouviu esse nome: Virna Jandiroba. Pois é, a história dela que a gente vai conhecer nessa semana na série de reportagens do Blog do Velame sobre personagens de Feira de Santana. Virna nasceu em Serrinha, mas, disse que é uma feirense do coração, que nasceu em 1988.

A sua infância foi tranquila, marcada por timidez, Virna contou que na escola até chegaram a pensar que ela tinha dificuldade para falar, mas, a explicação era outra, “eu vivia no meu mundo”. Contudo, ao chegar na adolescência isso mudou um pouco, a lutadora brinca que, “aprontei um bocadinho”.

Virna explica que foi criada dentro das artes marciais, a primeira experiência foi aos 12 anos, no Kung Fu, mas, ela não demorou muito por lá, a turma era toda formada por meninos e o machismo, fez com que a jovem atleta saísse do Kung Fu. Foi para o Judô, também não ficou muito tempo, logo foi convencida por um professor de Jiu Jitsu que ela tinha jeito pra coisa. Aceitou, o professor foi certeiro, a adolescente exclamou que o novo desafio, “foi amor à primeira vista”.

Já na fase adulta, mais uma migração, a serrinhense foi pra o MMA, com só dois meses já estava competindo. A partir daí, as dificuldades que a maioria das mulheres, nordestinas e atletas, enfrentam: desvalorização. Virna não encontrava adversárias no Norte e Nordeste, e a grana era pouca para competir no eixo Sul-Sudeste.

Entre os anos de 2014 e 2015, Jandiroba se mudou definitivamente para Feira de Santana – antes ela ia e voltava todos os dias de Serrinha, para treinar e para fazer a graduação na UEFS – a mudança era pra aumentar ainda mais a sua performance profissional.

Em março de 2018, lutando nos Estados Unidos, a serrinhense venceu o cinturão peso-palha do Invicta FC, “a passagem pelo Invicta foi determinante para o meu amadurecimento”. Mal sabia Virna que pouco mais que um ano depois de ganhar o cinturão, ela iria estrear no Ultimate Fight Championship.

Foto: Reprodução

Falando em UFC, o convite veio só com 20 dias de antecedência para a luta, Virna não titubeou e aceitou o desafio. Infelizmente, a estreia veio com derrota, “fiz uma boa luta, mas, foi definida no detalhe”, conta a lutadora. No final daquele ano, mais um combate no UFC, esse, Virna venceu.

Já durante a pandemia do novo coronavírus, mais uma luta, desta vez, a feirense do coração estava realizando um sonho: lutar em Las Vegas, nos Estados Unidos. Mas, não foi só isso, Virna deu show e finalizou com tranquilidade a americana, Felice Herrig, e mais, ganhou o bônus como a performance da noite.

E ainda tem mais, Jandiroba entrou para o ranking do UFC, ela disse que “entrei pro jogo, nos mostramos para o mundo”. Só que Virna quer mais, muito mais, “nunca escondi a minha ambição de estar entre as melhores e disputar o cinturão”, afirmou.

Você deve ter reparado que não citei uma vez sequer o famoso apelido de Virna, ‘carcará’, pois é, a história desse apelido merecia um parágrafo específico. Ela explica que pensou muito em qual apelido utilizar, “eu queria algo que representasse o sertão”, um amigo sugeriu: ‘carcará’. Caiu como uma luva, “a ave tem características muito fortes, imponente, usa a adversidade para o desenvolvimento”, disse Virna ‘Carcará’ Jandiroba.

https://www.instagram.com/p/CEJ34C4gPjA/?igshid=hk5fnzdqoi4e

A Virna dos octógonos, a gente já conhece, mas e a Virna fora deles? “Gosto de estar com os meus amigos, de ler, assistir filmes, eu gosto de fazer coisas que me desafiem, tô sempre buscando coisas novas, agora mesmo, estou aprendendo a tocar teclado”. Nessa pandemia, a ‘carcará’ disse que está sentindo falta de jogar boliche com os amigos.

Ao ser questionada sobre o que mudaria em Feira, Virna respondeu que não só aqui, mas, em todo o Brasil, “o incentivo ao esporte, sobretudo, na base, as pessoas têm direito de praticar o esporte”, finalizou. Valeu, Virna! Como você disse em Las Vegas, “deixem o carcará voar!”.

Feira de Santana / 07 de setembro de 2020 - 19H 06m

Preço da cesta básica sofre aumento em Feira de Santana no mês de agosto

Preço da cesta básica sofre aumento em Feira de Santana no mês de agosto
defocused of shelf in supermarket

Se você frequenta supermercados, certamente, a cada mês, observa um aumento na fatura. De fato, a cesta básica de Feira de Santana registrou aumento no último mês. O valor de R$ 373,61 no mês de agosto, encontrado pelos professores e alunos da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) que trabalham no programa Conhecendo a Economia Feirense: Custo da Cesta Básica e Indicadores Socioeconômicos, foi 0,84% maior que o observado no mês anterior.
Considerando os preços médios dos 12 produtos alimentares pesquisados e comparando-os aos preços levantados em julho, constata-se que as maiores altas foram do óleo de soja, do arroz e da carne.
Outros produtos que também apresentaram preços médios maiores foram a banana, o leite, e manteiga. já os demais produtos que compõe a cesta (açúcar, café, farinha de mandioca, feijão e tomate) apresentaram queda nos preços médios, com destaque para o feijão e o tomate.
O custo dos três produtos básicos que compõem o almoço do cidadão feirense, arroz, feijão e carne, foi responsável por 40,58% do valor da cesta básica de agosto. Já os quatros itens costumeiramente presentes na mesa do café da manhã, pão, manteiga, café e leite, responderam por 31,23% da mesma cesta.
Em relação ao salário mínimo líquido de r$ 966,63 (valor obtido após os descontos previdenciários que incidem sobre o valor bruto), o custo da cesta básica em Feira de Santana no mês de agosto representou um comprometimento de 38,65%.

Feira de Santana / 04 de setembro de 2020 - 19H 04m

Quem é o inimigo?

Por Daniele Britto

Quem me conhece sabe o quanto gosto de Clarice Lispector, principalmente das crônicas escritas por ela. Pra mim, é ali que se conhece a subjetividade questionadora e a grandeza de Clarice. Todas estas publicações estão reunidas no livro “A descoberta do mundo”, título também de uma crônica sensacional publicada em julho de 1968 no Jornal do Brasil.

Mas não é desta crônica que quero falar, agora. Quero falar sobre “É preciso também não perdoar”. Pode parecer um título rancoroso, mas, acreditem, não é. Essa crônica curtíssima não fala das mágoas bobas com as quais, muitas vezes, perdemos tempo. Fala sobre quando o inaceitável violentamente nos machuca – ou a um dos nossos. De forma pessoal ou institucionalizada.

No texto, Clarice fala sobre uma entrevista dada por uma ex-prisioneira de guerra à BBC inglesa, na qual a entrevistada ao mesmo tempo que expõe suas dores, pondera e busca compreender as fraquezas de quem a manteve em cativeiro. Louvável. Mas, assim como Clarice, acredito que não dá para fazer isso o tempo todo. Ou sempre. Destaco o meu trecho favorito: “Sei o que ela quis dizer, mas está errado. Há uma hora em que se deve esquecer a própria compreensão humana e tomar um partido, mesmo errado, pela vítima, e um partido, mesmo errado, contra o inimigo”.

Quero aqui tomar publicamente um partido e te convidar [ou convencer] a fazer o mesmo, antes que seja tarde. Talvez já seja, na verdade. Mas, eu vou tentar. Por Clarice.

Nos últimos dois anos, a imprensa brasileira vem sofrendo ataques veementes à sua liberdade constitucionalmente garantida. Claro que este não é um fato inédito na nossa história e muito menos exclusividade do Brasil. Porém, a artilharia institucionalizada e até militarizada vem com um alvo específico e muito claro: tornar a imprensa inimiga do público. Esta é a guerra.

Eu, quando jornalista, há muito joguei pela janela o mito da imparcialidade. Olha, isso não existe, tá? Todo ser humano é parcial. Do árbitro de futebol, ao juiz togado. Da minha e da sua mãe,  ao Papa. Do grupo econômico que comanda o grupo de comunicação ao repórter que está nas ruas, todo mundo é parcial. A pergunta é: de que lado se está?

Atacar a imprensa é diferente de se criticar a imprensa. A crítica é livre, pode ser uma opinião fundamentada ou quem sabe, uma teoria da conspiração divertida. Criticar é um ato de liberdade, desde que se respeite, claro, premissas básicas. O ataque, por sua vez, é bem diferente. Todo ataque visa destruir, extinguir algo ou, no mínimo, desestruturar. Atacar pressupõe a existência de um inimigo que necessariamente precisa ser exterminado para garantir uma existência pacífica e homogênea. Para que se propague apenas uma verdade [que pode ser uma grande mentira].

No âmbito político, atualmente, a formação de exércitos que se distribuem virtualmente e presencialmente para impedir o trabalho da imprensa é algo preocupante. Este tipo de estratégia intimidatória  – e também burra, diga-se – merece todo repúdio e combate efetivo, já que além de querer impor uma visão unilateral dos fatos não se vale daquele espaço para apresentar qualquer prova contrária ao que está sendo pautado. A única versão oferecida é a violência e a truculência digna dos que não querem dialogar.

Me espanta a inabilidade cênica daqueles que invadem comentários em determinadas reportagens ou denúncias publicadas para falarem bem de uma determinada pessoa, em especial políticos. A argumentação se assemelha a uma idolatria adolescente por um artista ou personagem. Mas, nem todos são risíveis e inofensivos. Alguns tem muito a perder (seus cargos atuais ou futuros) caso venha à tona o que possivelmente deveria estar debaixo do tapete.

A solução para ninguém cair e tudo continuar do mesmo jeito é uma só: eleger como inimigo os que, de um jeito ou outro, levam a dúvida e expõe a imagem de quem já é uma figura pública passível de análises e críticas diversas. E quando se exerce uma função pública, ainda podemos acrescentar a fiscalização.

Não esqueçamos a quem pertence as grandes concessões públicas de rádio e TV do país, bem como grande parte da mídia impressa: políticos e empresários. Empresários e políticos. É uma guerra de poder e pelo poder. Mas, jornalismo não é só isso e nem nunca será.

Portanto, não adianta querer cercear ou invalidar o trabalho jornalístico achando que, desta forma tudo se resolve. Neste momento, falo com os/as ”generais” destes exércitos, não com os soldados. Se é mentira, prove. Se há licitude em determinado ato, apresente contestação adequada. Se existe um direcionamento exacerbado e inverídico de conteúdo, demonstre pelo instituto do direito de resposta. Se exponha, meta a cara ao invés de mandar os soldadinhos levarem chumbo por você.

Querer acabar com a liberdade de imprensa é algo que não se deve perdoar e muito menos aceitar. A modulação da atividade jornalística é inaceitável e compromete a função social do jornalista. Nessa história eu já tomei o meu partido, com a aprovação de Clarice, certamente. Eu não perdoo quem quer silenciar a imprensa. Para que fique claro, uma última observação: a depender da sua escolha, a vítima pode ser você.

*Daniele Britto
Advogada e Jornalista
Mãe, feminista, antirracista e aliada na luta contra a homotransfobia
Pesquisadora no grupo Corpo-território Decolonial (Uefs))
Mestranda PPGE/Uefs

Feira de Santana / 30 de agosto de 2020 - 11H 25m

Prefeitura de Feira amplia frota e horário do transporte coletivo, a partir de segunda

A partir desta segunda-feira(30) a Prefeitura de Feira passa operar com 60% da frota de ônibus coletivos do Sistema Integrado de Transporte (SIT) e o atendimento passa a ser até 21h, horário do último balão.
Em seu site oficial, a Prefeitura anunciou que mais 40 ônibus estarão circulando em todas as linhas que apresentaram aumento na demanda de passageiros. A operação contará com ônibus convencionais do tipo Padron (de maior capacidade) e micro-ônibus das concessionárias São João e Rosa, sendo iniciada no Terminal Central às 5h.
Os atrasos e a superlotação nos ônibus tem sido uma reclamação frequente dos usuários do transporte coletivo.
Segundo o secretário da pasta, Saulo Figueiredo, a medida faz parte da etapa do plano de retomada gradativa e segura do serviço de transporte público urbano no município.
“Durante toda a pandemia tivemos o cuidado de avaliarmos, diariamente, a oferta de veículos e a demanda de passageiros em linhas específicas. Após discutirmos soluções técnicas, estamos otimizando a frequência deste serviço essencial nos pontos de ônibus, bem como a melhoria da mobilidade dos clientes que usam o transporte público”, explica.
O secretário também destacou que, mesmo com a redução de mais de 70% no total de passageiros transportados desde março, mês de início da pandemia, a Prefeitura garantiu a circulação de 40% da frota de ônibus nas zonas urbana e rural atendendo setores essenciais, diferente de inúmeras cidades no país em que o transporte coletivo foi suspenso por conta da Covid-19.
Fiscais da SMTT seguirão orientando usuários em pontos de integração e nos terminais Central, Norte e Sul para, em caso de deslocamento, buscarem horários alternativos a fim de evitar aglomerações.
De acordo com a publicação, a obrigatoriedade do uso de máscaras, a completa higienização e desinfecção tanto nos ônibus coletivos quanto em terminais de transbordo continuam entre as medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do Coronavírus no país.
Confira as linhas com incremento de frota:

(Concessionária Rosa)

003 – UEFS/Direta
063 – Campo Belo via Campo do Gado
066A – Conceição I via Parque Brasil
067A – Conceição I via Santa Bárbara
072 – Conj. João Paulo
073 – Gabriela II
076 – Lot. Modelo
083 – Pedra Ferrada via Braço Forte
087 – UEFS via Maria Quitéria
108 – Conder/ Av. Iguatemi
109 – George Américo (Expressinho)
114 – Princesa Vile via Solar da Princesa
115 – Cond. Asa Branca via Sítio Novo
119 – Alto do Papagaio via Conj. João Paulo
124 – Santa Quitéria/Adelba/Parque Ipê

(Concessionária São João)

01 – Fraternidade/Cis/Term. Central
02 – Cidade Nova/Cis via J. Durval
07 – FTC/Dhama/Jardim Brasil
08 – Fraternidade via João Durval/T.Central
09 – Polo Industrial via Terminal Central
15 – 35º BI via Jomafa/Adenil falcão
17 – Feira IX
18 – Aviário via 35º BI
19 – Conjunto Feira X
20 – Feira VII
21 – Parque da Cidade/Marechal
25 – Subaé 35º BI via Jomafa
27 – Viveiros via Avenida Rio de Janeiro
33 – Parque Lagoa Praça
35 – Outlet via Terminal Central
38 – Monte Pascoal
41 – Rio de Contas/Eco Parque/Res. do Parque
85 – Santo Antônio dos Prazeres
107 – Parque Getúlio Vargas

SIU Mobile

O usuário também pode acompanhar a previsão de chegada dos ônibus através do aplicativo SIU MOBILE, disponível para smartphones com recursos de GPS.

O App pode ser baixado gratuitamente pelo usuário através do Google Play (plataformas Android e Windows), IOS ou ainda pelo site www.viafeira.com.br.

Todos os ônibus coletivos urbanos estão equipados com câmeras de monitoramento em tempo real, acessibilidade por plataforma elevatória, além de sistema de bilhetagem eletrônica que facilita a operação de pagamento da passagem ao usuário que possui cartão Via Feira, evitando também a contaminação por não manusear cédulas de dinheiro.

Outra vantagem, aos domingos e feriados, é a tarifa com preço reduzido a 50% garantido pela Prefeitura de Feira.

Opinião / 27 de agosto de 2020 - 10H 25m

Quando a branquitude tropeça nos próprios pés

Por Daniele Britto* 

Como advogada, mestranda, pós graduanda e pesquisadora que acumula olheiras e castiga a cervical ao ficar por horas estudando e escrevendo, foi impossível não ter acompanhado o caso envolvendo a professora de Direito Tributário Cátia Regina Raulino, que se identifica como uma mulher do sul do Brasil aportada na capital da Bahia. Sim, dentro da esfera da presunção de inocência ela ainda é professora, advogada, mestra, doutora, pós doutora e tudo o quanto preenche aquele invejável currículo Lattes.

Por mais que a UniRuy, a Ucsal, a UNIFACS, a Faculdade Maurício de Nassau, a Unijorge, o CEJAS do desembargador e professor José Aras e tantas outras instituições tenham varrido dos seus sites e memórias a existência de Cátia Regina Raulino, os algorítimos deixam rastros. Ou melhor: deixam à mostra provas de relevantes vínculos institucionais e estreitas relações pessoais e profissionais. Aproveito para informar à Editora Jvspodium que não dá pra apagar da memória internética que a professora Raulino também é autora do livro Direito Eletrônico, que compõe a Coleção Leis Especiais Para Concursos.

A pergunta que todos, todas e todes se fazem neste exato momento é: como ela supostamente conseguiu enganar tanta gente, por tanto tempo? Senhoras e senhores, a resposta tem duas palavras: privilégio branco.

Pela esquiva dos seus ex-empregadores e parceiros comerciais, parece que, de fato, há algo de errado nas titulações e publicações da multifacetada professora tributarista. Qualquer erro curricular desencadearia uma avalanche de consequências legais – inclusive penais que maculariam a credibilidade de tantas instituições de destaque no cenário educacional baiano e nacional.

As prováveis credenciais que convenceram os parceiros e empregadores de Cátia Raulino são de natureza biológica, mas é a sua manifestação fenotípica o grande lance. Talvez ela nem tenha precisado apresentar um documento falsificado sequer. Sua pele branca, seus loiros cabelos e sua territorialidade sulista afastaram de Raulino toda e qualquer presunção de má-fé, malandragem ou falseamento. Nenhuma mínima suspeita se lançaria sobre a intelectualidade presumida daquele sorriso com clareamento dental em dia.

Algo diametralmente oposto aconteceu com uma colega pesquisadora, mulher negra e pedagoga, ao pleitear uma vaga como professora da Educação Básica em um estabelecimento particular não muito longe da capital baiana. Relata a profissional que, além da cópia de todos os documentos pessoais e de qualificações acadêmicas, lhe foi requisitado, obrigatoriamente, uma certidão de antecedentes criminais.

Erra a empregadora em pedir toda esta documentação antes da efetivação do contrato de trabalho? Não, absolutamente. O erro perverso e seletivo está no fato de não ser assim com todo mundo. Principalmente, se esse “todo mundo” se encaixar nos padrões implantados pelos colonizadores europeus, de uma forjada superioridade intelectual e moral que tem como alicerce séculos de silenciamentos e apagamentos.

E essa lógica perversa vai além do racismo e seus diversos afluentes, alcançando os corpos em outras dimensões como gênero e sexualidade, por exemplo. Os corpos gordos ou portadores de deficiência ou velhos também sofrem em proporções diversas os estigmas e selos trazidos pelos padrões coloniais que são brancos, hétero-cis-normativos, cristãos e capitalistas.

Quais serão as possíveis consequências jurídicas, financeiras e de branding para estas instituições acaso reste comprovado terem contratado sem o menor rigor uma possível estelionatária para dar aulas, cursos e escrever livros? Estamos aguardando ansiosos as cenas dos próximos capítulos dessa bizarra história regada possivelmente a muita hipocrisia e, dando mérito à protagonista, muita criatividade.

Que a sede capitalista, desfrutada avidamente pela branquitude privilegiada (é tão redundante esta expressão), utilize os sombreiros para esconder seu vexame, sua ridicularização pública, sua seletividade perversa e não para omitir corpos enquanto continuam a tilintar suas máquinas registradoras.

E que venham os prejuízos, caso tudo – ou nada, a depender do ponto de vista – se confirme. Esta é a melhor pedagogia para os que ditam o dress code da colonialidade.

*Daniele Britto
Advogada e Jornalista
Mãe, feminista, antirracista e aliada na luta contra a homotransfobia
Pesquisadora no grupo Corpo-território Decolonial (Uefs))
Mestranda PPGE/Uefs

Feira de Santana / 18 de agosto de 2020 - 10H 07m

Projeto lança cartilha sobre a Covid-19 para pessoas em situação de rua

Elsimar Pondé
E-mail: [email protected]

O Projeto Cuidando da Maloca, em parceria com a Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) e o Movimento Nacional de População de Rua – Núcleo Feira de Santana, lança no próximo sábado (22), a cartilha “Cuidando da Maloca: orientações sobre a Covid-19 para a população em situação de rua”.

O material didático e ilustrado foi produzido com o financiamento da Uefs, juntamente com o Mestrado Profissional em Enfermagem (MPE), e contou com a colaboração do Núcleo de Extensão e Pesquisa em Saúde da Mulher (NEPEM), ambos da universidade feirense.

A iniciativa também teve o apoio de outras instituições, como a Universidade do Estado da Bahia (Uneb) – Núcleo de Pesquisa Interfaces em Saúde; Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) – Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e o Centro Social Monsenhor Jessé – Pastoral do Povo da Rua.

Este trabalho ainda contou com o apoio da Cáritas Arquidiocesana de Feira de Santana; Associação Cristã Nacional (ACN); Comunidade de Aprendizagem Ubuntu, Comunidade Anglicana Ressurreição do Senhor; Grupo Obras do Senhor; Grupo Evangeliza Feira e a População em Situação de Rua de Feira de Santana.

O lançamento ocorrerá às 9 horas na Praça da Matriz e de acordo com o Projeto Cuidando da Maloca serão seguidos todos os protocolos de prevenção e segurança.

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