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Opinião / 23 de agosto de 2021 - 10h 43m

Mais uma vez de volta

Mais uma vez de volta
Compartilhamento Social

Por Daniele Britto*

Escrever pode ser um processo doloroso para quem tem nas palavras e no papel a sua principal forma de expressão. Este é o meu caso e não escondo isso de absolutamente ninguém. Quem me conhece sabe que a prosa é onde eu me encontro e, por vezes, me perco. As divindades me pouparam de ser uma mulher dos versos… fosse isso, não estaria mais entre nós, provavelmente.

O meu comparsa-mor, aquele que dá nome a este blog entende o meu ritmo e a minha necessidade de, por vezes, sumir. Ele sabe de mim desde sempre – e provavelmente para sempre – e, sem titubear, deixa a porta entreaberta porquê sabe que eu sempre volto.

Esta pandemia quase me enlouquece. Eu digo “quase” com um otimismo que nem me é peculiar, mas só pelo fato de que sigo acreditando que a Terra não é plana e que a vacina salva me sinto, ainda, com a saúde mental satisfatoriamente equilibrada. Claro que este é um parâmetro absurdo e que ignora muita merda que aconteceu na minha vida nos últimos tempos. Vocês já sabem que detesto eufemismo e que “merda” é um substantivo demasiadamente adequado pra expressar de forma generalizada os aportes de caos que inundaram nossa existência desde março de 2020.

Só queria vir aqui dizer que estarei de volta, agora às segundas. Já tentei escrever às quintas e sextas sem sucesso. Quinta-feira é um dos dias mais lindos da semana pra mim. É uma sexy incógnita esse dia e geralmente me perco nele sem nenhuma razão plausível. Já às sextas, a minha exaustão é plena e não consigo fazer nada além de vociferar resmungos contra toda e qualquer bandalheira. Não, isso não estava bom.

Resolvi então, voltar às segundas. Sem nenhum cálculo lógico ou debate enviesado pela racionalidade, apenas decido escrever às segundas. Na verdade, escreverei aos domingos para que publique-se às segundas. Domingo, este dia tão morno, de ânimos familiares cansados e sem muita emoção. Parece um bom dia para conspirar racionalmente contra o fascismo, falar sobre o porvir e concatenar pensamentos úteis sobre o agora e o logo mais.

Apesar de seguir impermanente como forma de autocuidado, mantêm-se absolutas as minhas convicções acerca do enfrentamento e desnudar das colonialidades, bem como a minha ojeriza e crítica a tudo que se relacione com o desgoverno Bolsonaro e seus asseclas em qualquer poder. Racistas, machistas, misóginos, homofóbicos e também os hipócritas vão sentir, como sempre – ou até mais um pouco – o peso da minha tinta.

Então é isso. Mais uma vez retorno à escrita, sem qualquer constrangimento ou pudor em dizer que, todas as vezes que o mundo me fizer demasiadamente mal, eu fugirei buscando que, sobre mim, recaia o manto das amenidades.

*Daniele Britto

Advogada e Jornalista
Mãe, feminista, antirracista e aliada na luta contra a homotransfobia
Pesquisadora no grupo Corpo-território Decolonial (Uefs)
Mestranda PPGE/Uefs


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