Historiador aponta necessidade de espaços de enfrentamento político em Feira: ‘Estamos em uma crise importante’
Mais do que um programa semanal, a edição do Velame Para Quem Merece (VPQM) desta quarta-feira (14) se transformou em um espaço de profunda reflexão, com uma verdadeira aula de história sobre o passado, o presente e o futuro da Princesa do Sertão, que contou com a presença de Clovis Ramaina, escritor, pesquisador professor da UEFS e Doutor em História.
Entre os temas abordados: a situação da Universidade Estadual de Feira de Santana, o abandono dos equipamentos públicos e, principalmente, o paradoxo entre a continuidade do grupo político que governa a cidade há mais de duas décadas, e a ausência de políticas públicas igualmente duradouras, que dialoguem com a sociedade.
“É impressionante um quinto de século governado pelo mesmo grupo político e não tem uma política com continuidade voltada para a maioria da população. 20 anos em que o mesmo grupo entra um, sai outro, vão trocando o turno e você não vê nada de continuidade na educação, na saúde… A única coisa que tem continuidade é a construção desses ‘monstrengos’. Que cidade que está gostando de viadutos… Esses negócios horrorosos, maus feitos. O da Cidade Nova está devastado, o anterior da Fraga Maia também. E a mesma gestão por 20 anos”, criticou.
Diante deste cenário e de mais um pleito municipal que se aproxima, em 2024, o que esperar do futuro de Feira de Santana? Questionado pelo jornalista Rafael Velame, o professor apresentou uma visão cautelosa, acentuando que este é um processo burocrático, sobretudo pelo uso da máquina pública em forma de cabide de empregos.
“Estamos em uma crise importante. Uma crise de representação. Mas pode ter uma saída. O que o atual prefeito fez, nas vésperas da eleição, com os camelôs, era para essa cidade colocar ele para correr. Foi muito agressivo. E houve muita manifestação de solidariedade aos camelôs, mas isso não se transformou em resultado eleitoral. Acrescente-se que em Feira tem uma experiência de inchaço da máquina pública, via cooperativas e vários outros esquemas, e o curioso é que os caras se dizem liberais. E isso se multiplica em voto. Virar uma eleição de primeiro para segundo turno não é fácil não, e eles viraram. Só vamos conseguir espaço se a gente se cuidar e se empoderar cotidianamente, criando territórios em que possamos fazer o enfrentamento político. Não tenho esperanças de mudar a Câmara radicalmente, mas ela está capturada por coronéis da fé e por gente do mesmo nível, mas nem me atrevo a dizer o que fazem”, se limitou.
Ainda na ocasião, Clovis destacou a importância da UEFS para a dinâmica da cidade. Desde a sua instalação até os dias atuais.m: “Eu diria que é o equipamento público mais importante da história de Feira de Santana. Ela muda o eixo da cidade. Ela traz um conjunto de profissionais que passam a residir na cidade e criam hábitos de cultura de consumo. Precisa radicalizar cada vez mais nas atividades de extensão, para que as coisas que a gente faz no campus sejam de domínio público. A UEFS precisa ser um domínio público, um instrumento que todos manuseiam, e se abrir”, concluiu.
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