Feira de Santana /
25 de julho de 2021 - 10h 43m
Escritoras e intelectuais negras são homenageadas pela Seduc
A produção intelectual das mulheres negras será destaque a partir deste domingo, 25, até o próximo dia 31 de julho. A indicação das obras será feita também por mulheres negras, nas redes sociais da Secretaria Municipal de Educação. Em vídeos e textos, as convidadas vão ressaltar a importância da representatividade para elas e como a educação/cultura transforma o contexto de uma sociedade ainda preconceituosa e racista. O primeiro vídeo, apresentado pela secretária da pasta, professora Anaci Paim, já está disponível. A iniciativa, que marca o “Julho da Mulher Negra”, é da própria Seduc. Para conferir o conteúdo, acesse as redes sociais: Instagram (https://www.instagram.com/seducfsa/) e Facebook (https://www.facebook.com/seducfsa ). A ação acontece em alusão ao Dia Internacional da Mulher Negra, Latina e Caribenha, que transcorre neste dia 25 de julho . A data foi instituída durante um encontro de mulheres negras na República Dominicana, em 1992, com intuito de lutar contra as opressões de raça e gênero. E no Brasil tornou-se lei em 2014, com a criação do Dia Nacional de Tereza Benguela e da mulher negra. Tereza de Benguela foi uma líder e heroína quilombola, que viveu no século XVIII e se tornou símbolo de força, liderança e resistência. Ela assumiu o quilombo Quariterê, localizado na região do Mato Grosso, e resistiu por mais de duas décadas de liderança contra a escravidão na região.
Uma data reflexiva
Um dia que duplamente proporciona reflexões sobre o racismo e o sexismo no Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população negra, de pretos e pardos, compõe 56% do contingente brasileiro; desta porcentagem, 28% é representada por mulheres negras.
Mesmo as negras sendo uma grande parcela da população, os números relacionados a sua atuação no mercado de trabalho, salário e ocupação em cargos de liderança são menores quando comparados a outros grupos populacionais.
Elas chegam a ganhar menos da metade do salário de homens brancos no Brasil. Como também são as principais vítimas de feminicídio e violência doméstica no país. Além de estarem na base da pirâmide socioeconômica do país.
Segundo a escritora Conceição Evaristo, “o imaginário brasileiro, pelo racismo, não concebe reconhecer que as mulheres negras são intelectuais”.
Para ir contra essa corrente no contexto social e histórico que permeia a vida dessas pessoas, a Secretaria Municipal de Educação, através de suas redes sociais, evidencia este ano a produção intelectual, científica e literária dessas mulheres que muitas vezes são referências em suas áreas.
“A indicação de leitura de obras cujas autoras são mulheres negras visibiliza essas escritoras e ajuda a oferecer referências de mulheres que mudaram sua trajetória através da escrita e da leitura, falando de si e do seu povo. É a história sendo reescrita e vista por outra perspectiva, que foi negada por muito tempo”, esclarece a professora Railda Neves, mestra em História da África, da Diáspora e dos Povos Indígenas, integrante do Departamento de Ensino e uma das idealizadoras da campanha.
Para a professora, “essa é uma maneira de trazê-las para o centro das discussões, para o protagonismo”.
A iniciativa conta com o apoio da Assessoria de Comunicação da Seduc.
Vivências
A pedagoga Sara Barbosa, diretora da Escola Municipal Dr. Demosthenes Álvaro de Brito, é uma das convidadas.
Para ela, que também é atriz, esta é uma ocasião para oportunizar as mulheres negras a alcançarem outros espaços, uma forma de irem além da força da mão de obra e da invisibilidade a qual são associadas. “O simples fato de ser quem eu sou só foi possível por causa daquelas que vieram antes de mim”, diz a pedagoga.
“São mulheres intelectuais, escritoras, professoras, que fizeram antes esse caminho. Pessoas que possibilitaram a nossa abertura de olhos para o racismo estrutural, para um olhar mais atento ao que a sociedade impõe. Elas nos mostram continuamente que é possível estar ali também”, complementa.
A professora mestre Elizabete Bastos, também da equipe Seduc, destaca que não existem palavras suficientes para explicar o que essa representatividade significa em sua vivência.
“Esse é um valor quase que indizível para nós, palavras que possam explicar o que é esse ato revolucionário. A nossa história tratou de silenciar e invisilizar corpos negros que revelaram protagnismos importantes. Perdemos essas referências que saem do lugar comum, que muitas vezes são ocupadas por pessoas de pele clara”, pontua.
“Agora, eu tenho alguém que fala de si, mas também fala de mim. Me representa enquanto gênero, raça, classe… A partir do seu povo, que também é o meu. Essas mulheres trazem contribuições, através de versos, poesias, teses, livros, uma chuva de palavras e alegrias, que nos dizem: podem até nos machucar, mas não podem nos imobilizar”, ressalta Railda. I
Indicações
Para conhecer obras desta mulheres, a iniciativa das professoras listou algumas leituras que serão indicadas durante o “Julho da Mulher Negra”.
Confira as indicações de livros e autoras negras abaixo:
Lelia Gonzales – Lugar de negro (1982) – Festas Populares no Brasil (1987)
Conceição Evaristo – Becos da Memória, 2006 (romance) – Escrevivências – 2016
Carolina Maria de Jesus – Quarto de Despejo (1960) – Onde Estais Felicidade (2014)
Sueli Carneiro – Escritos de uma vida. – A cor do Preconceito.
Djamila Ribeiro – O que é lugar de fala? 2016 – Pequeno manual antirracista (2019)
Petronilha Beatriz Gonçalves – O Pensamento Negro em Educação no Brasil