Arcebispo de Feira alerta para fake news e convoca cristãos: ‘Votem e façam crescer a democracia’
Por Leandro Oliveira, repórter
De acordo com dados do IBGE, 86,8% dos brasileiros se declaram cristãos. E é de olho nessa fatia expressiva da população que grande parte dos políticos se utilizam, de maneira oportuna e cotidiana, da retórica religiosa em busca de votos.
Temas que permeiam os valores cristãos estão sempre em cheque nos debates, sendo explorados de maneira estratégica nas propagandas eleitorais. Entre as pautas mais discutidas e polêmicas: o aborto, a ideologia de gênero e a legalização das drogas.
Mas, afinal, em tempos tantas de fake news, quais reflexões os cristãos devem fazer antes de ir às urnas neste segundo turno? É sobre este assunto que o Blog do Velame conversou, com exclusividade, com Dom Zanoni Demettino Castro, Arcebispo Metropolitano de Feira de Santana.
“Este é um momento importantíssimo. Compreendemos que a política é a forma mais eficaz de se exercer a caridade, de fazer aquilo que é bom, reto e justo. Vivemos um momento de crise, superando ainda a pandemia, tendo crescido, assustadoramente, a distância entre ricos e pobres, e o aumento da miséria, da violência… Somos chamados a participar da construção de um mundo de justiça e de paz. A Igreja não aponta e nem proíbe partidos, mas deixa na liberdade da consciência de cada um, observando a Doutrina Social e a compreensão da defesa da vida, desde a sua concepção até o seu fim natural. A preocupação com os pobres é o que o Papa tem insistido: terra, teto e trabalho. E ele fala: ‘essa economia mata’. Precisamos de uma economia de solidariedade e de paz. Votem e façam crescer a democracia”, conclamou o arcebispo.
Ao mesmo passo em que a população vê políticos invocando o nome de Deus para dar respaldo às suas promessas, de forma antagônica e paralela os discursos movidos pelo ódio e pela intolerância também têm se acentuado.
“Há uma manipulação muito perigosa da realidade religiosa: a distorção, a construção da fake news… Isso desvirtua a liberdade e a cidadania. A Igreja tem insistido que acredita e luta pelo Estado Democrático de Direito. Acompanha e reconhece a seriedade e a legitimidade das instituições que conduzem o processo eleitoral. Compreende que o povo simples possa ter a sua representação, porque essa economia mata e vai gerando cada vez mais sofrimento e dor. E o Congresso que foi escolhido não favorece muito a defesa dos direitos. Precisamos nos empenhar para que, aquele que for eleito, corresponda ao sonho da defesa dos direitos dos pequenos e dos pobres”, declarou Dom Zanoni.
O conservadorismo mais radical atinge, neste momento, também o espectro religioso. Nas redes sociais facilmente é possível encontrar comentários de cristãos alegando que a Igreja no Brasil tem se aproximando do comunismo, com críticas à CNBB e ao próprio Dom Zanoni. Ele explicou como lida com isso.
“Vivemos um momento de crise, inclusive na vida da Igreja. E o Papa nos chama a um caminho sinodal. Caminhar juntos. Muita gente está querendo uma igreja distante do diálogo, do ecumenismo, da reflexão com a sociedade. O surgimento de milhares de fake news contra os bispos, o Papa e a CNBB, vem de uma mesma fonte, que manipula essa postura, que articula esse mal, colocando até o Papa como inimigo número um. Toda essa artimanha para dividir é sinal do demônio. Tudo que divide. E isso vai cair. Fazemos a oração de Nossa Senhora, Ela que louva a Deus. Mas não qualquer Deus. Um Deus que eleva os humildes e derruba os poderosos dos seus tronos. Um Deus que despede os ricos de mãos vazias. E como Dom Helder dizia, o grande profeta, que foi silenciado pela ditadura militar: ‘ó Maria, mãe de Jesus e nossa, não precisa ir tão longe no teu hino (Magnificat), mas que não haja nem ricos e nem pobres’”. Este é o nosso desejo. Este é o Shalom de Deus. Quem não desejar isso, talvez deixe de ser cristão”, concluiu.