Vereador cita “racismo reverso” para justificar voto contra evento no Dia da Beleza Negra
A maioria dos vereadores presentes na Câmara de Feira aprovou a realização da solenidade em homenagem ao Dia Municipal da Beleza Negra e ao Dia Municipal do Sacerdote e Sacerdotisa de Religião de Matriz Africana. A apreciação aconteceu nesta quarta-feira (07), quando o requerimento do vereador Petrônio Lima (Republicanos) recebeu apenas um voto contrário e uma abstenção. A homenagem foi criticada pelo vereador Edvaldo Lima, que votou contrário ao requerimento, usando um esdrúxulo argumento de racismo reverso. “Por que não colocou aqui o dia da beleza branca, o branco não tem direito?”, questionou. Segundo ele, o Dia da Beleza Negra é discriminatório. O edil, que é pastor evangélico e intolerante religioso, também questionou o fato do evento ser promovido pelo Odungê (Núcleo Cultural Educacional e Social Quilombola), que segundo ele é de candomblé. “Ainda mais que é promovido por um grupo chamado de Odungê”, reclamou. Em reação ao pronunciamento de Edvaldo, o vereador Jhonatas Monteiro (PSOL) afirmou que, diferente do que acontecia antes na Câmara de Feira, esse tipo de discriminação e preconceito não ficariam mais sem resposta. “Pra o vereador Edvaldo Lima, que parece que não frequentou as aulas de história do país, que desconhece o bê-a-bá mais simples daquilo que é o nosso país, pra vir afirmar que o que divide o a nossa sociedade é reivindicar valorização pra negros e negras, é desconhecer que o que nos divide é a persistência do racismo, que a fala dele é só mais um exemplo. Então, se a gente assume aqui o uso da tribuna, tem que ter coragem de assumir nossas posições sem subterfúgio, sem dar volta, se é racista, tem que dizer que é”. Após a sessão, o Jhonatas voltou a se pronunciar no Twitter. “Infelizmente, precisei rebater uma fala racista do vereador Edvaldo Lima. É revoltante, mas farei sempre que necessário: acabou o tempo da Câmara Municipal como espaço livre para discurso de ódio. Racismo, intolerância religiosa e outras violências não ficarão sem resposta”, escreveu. O vereador petista Sílvio Dias também foi duro ao rebater as declarações de Edvaldo. “O vereador Edvaldo Lima comente talvez o maior dos crimes, negar a sua origem, negar o maior crime desse país que foi a escravidão. É não reconhecer os crimes sexuais, morais, físicos praticados contra a população negra”, bradou. Não satisfeito, Edvaldo pediu que fossem registrados os nomes dos vereadores evangélicos que votaram a favor do requerimento. Como previsto no documento, a solenidade deverá acontecer no mês de setembro. O evento é promovido pelo Odungê (Núcleo Cultural Educacional e Social Quilombola), presidido por Maria Lourdes Souza Santana. O autor da solicitação, vereador Petrônio Lima, destaca que o objetivo da solenidade é incentivar a auto estima e enaltecer a beleza negra. Ele acredita que é uma iniciativa importante no combate à discriminação e promoção da igualdade. “A cor da pele não diz sobre o caráter de ninguém e não diz se o indivíduo é bom ou ruim. Deus criou o homem a Sua imagem e semelhança, sem distinção de raça e cor”.