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Opinião / 11 de setembro de 2020 - 03h 05m

E essas eleições?

Compartilhamento Social

Por Daniele Britto

Mais uma eleição municipal se aproxima. Aquele burburinho típico das disputas pelo poder nas cidades do interior, este ano, vai ser diferente. Na verdade, este ano vai ser o mais diferente entre tantos que já adormecem nas nossas memórias e os que ainda se aguarda com certa expectativa. Mas, expectativa de que, mesmo?

Observando e dialogando com diversos amigos, a pergunta mais recorrente dos últimos tempos é: “E essas eleições?” Percebo que diante das opções apresentadas nas convenções partidárias, os sentimentos se dividem claramente entre desolação, incredulidade, insatisfação e grande apatia. Poucos são os esperançosos e animados, mas eles existem.

Destaco também a presença de um grupo o qual intitulo “ os confortáveis”, que são aqueles e aquelas que já tem o seu voto comprometido, por motivos de “tenho um cargo/meu pai tem um cargo/minha tia tem um cargo e não abrirei mão disso”. Ora, é de conhecimento público [talvez, menos do Ministério Público] que, em Feira de Santana, pra arrancar dente ou ser “olheiro” remunerado dentro de equipamento público, tem lugar pra [quase] todo mundo.

Penso que este novo perfil de eleitor/a ainda seja um reflexo das últimas eleições presidenciais e sua polarização que ainda repercute nos almoços de família e nas mesas dos bares, locais que, antes, simbolizavam ambientes onde as pautas políticas eram mais secundárias. A vitória de uma proposta conservadora-hipócrita [que já causa arrependimento em alguns poucos] sobre uma esquerda que não tem mais brilho [e moral, no sentido mais tacanho que sua mente alcance] deixou marcas em muita gente. E um cansaço generalizado.

O que nos oferta hoje o cenário político feirense para as próximas eleições reproduz majoritariamente – observe, eu não disse totalmente – estruturas de poder hétero-patriarcais, brancas e cristãs que se revezam no poder há séculos. Portanto, não há nenhuma novidade nesse bonde, que consegue, entre tantas proezas, transformar o adjetivo “novo” em sinônimo de “antigo”.

O jogo está muito claro, as peças estão postas, mas ainda é difícil reagir, escolher e, acima de tudo, acreditar. Alguns discursos e “propostas” são facilmente rechaçáveis quando se tem alguma posição política e ideológica fincada em valores mais universais, que transitam, talvez, entre uma ideia de Estado de bem-estar social e as concepções de “Bem-Viver”. O oposto (infelizmente) também é realidade: quando se detém uma noção de Estado teocrático cristão no qual a bíblia deve ocupar o lugar da Constituição como “solução” e controle dos corpos, qualquer discurso antagônico já se torna intragável.

De toda sorte (ou azar), votarei. Eu tenho que votar. E você também. Na urna, não depositarei emoções, longe disso. Meu voto será fruto de uma análise fria, minuciosa e, claro estratégica. Tádifícil, mas escolher é preciso. Voltaremos a conversar sobre isso.

E que Feira vença!

*Daniele Britto
Advogada e Jornalista
Mãe, feminista, antirracista e aliada na luta contra a homotransfobia
Pesquisadora no grupo Corpo-território Decolonial (Uefs)
Mestranda PPGE/Uefs


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