Polêmica, atrasos, escândalos e fracassos: Colbert deixa a Prefeitura de Feira pela porta dos fundos
Os últimos dias da gestão de Colbert Martins (MDB) foram marcados por uma verdadeira contagem regressiva entre opositores e membros do próprio grupo político. Deixando a prefeitura em um cenário de terra arrasada, com crise administrativa e financeira, o emedebista se despede sem deixar muitas saudades.
Nos últimos quatro anos de mandato, conseguiu acumular inúmeras polêmicas, escândalos, constantes atrasos de pagamentos e suspensão de serviços básicos à população, que resultaram em uma baixa popularidade entre os feirenses.
Tamanho o desastre da administração, passou a ser evitado, de forma estratégica, em todas as peças eleitorais do sucessor, José Ronaldo. A situação, evidentemente, foi explorada pelo adversário político, resultando até mesmo em música: “Zé Ronaldo é Colbert”.
No que diz respeito às relações institucionais, o emedebista se viu diante de diversas “saias justas”. Se, antes, conhecido por sua habilidade nas costuras políticas em Brasília, como prefeito construiu para si um cenário totalmente adverso. Conseguiu ser ‘persona non grata’ entre todos os presidentes que passaram no legislativo (Fernando Torres e Eremita Mota), vendo ainda a base governista derreter. Mesmo os aliados mais ferrenhos, como Edvaldo Lima, pularam do barco e só retornaram na metade do mandato.
Para quem esperava que, pelo fato de ser médico, haveria uma atenção especial para com a saúde, se frustrou. Dois dos seus secretários se tornaram réus na ‘Operação No Service’, por desvios na saúde, com prédios públicos sendo alvos de busca e apreensão por parte da Polícia Federal. Um relatório da CPI chegou a solicitar o indiciamento do prefeito.
Mas o descaso de Colbert com a saúde não parou por aí. Os atrasos nos pagamentos dos servidores terceirizados se tornaram rotina, assim como a paralisação dos serviços essenciais à população. Funcionários chegaram a realizar vaquinha na UPA da Queimadinha, após três meses sem salário. Sem conseguir atendimento, uma paciente, recentemente, destruiu quase todos os equipamentos da unidade.
O tão sonhado Hospital Municipal, eterna promessa de campanha, ainda segue longe de sair do papel. Apesar do investimento anunciado de mais de R$ 24 milhões, a previsão é de apenas um leito de UTI, sem atendimentos de emergência, frustrando as expectativas e a própria necessidade do Município.
Se a atuação na área da educação valesse nota, certamente o gestor seria facilmente reprovado. Isso, claro, se o sistema permitisse. Afinal, a empresa de tecnologia que presta serviços à educação, suspendeu as atividades após inadimplência, fazendo com que professores não pudessem sequer lançar notas dos alunos ou realizar matrículas.
Outro caso inusitado repercutiu em todo o país: alunos de Feira de Santana tinham aulas em um espaço em que funcionava um açougue aos domingos, em meio a freezer, ganchos e engradados de bebida. Um aluno de oito anos chegou a passar mal.
Com recursos licitados no valor de R$ 83 milhões, Colbert e sua secretária também deixaram faltar o básico: merenda para as crianças. Na Escola Rosa Maria Esperidião Leite, alunos “precisavam” almoçar apenas feijão e arroz, sem qualquer tipo de proteína.
Um dos equipamentos mais tradicionais da cidade, conhecido por ser uma referência no aprendizado e na cultura local, a Biblioteca Municipal se transformou em um elefante branco. Fechado para reforma, o espaço segue sem data exata para ser entregue à comunidade. Cerca de 17 mil exemplares do acervo também tem paradeiro incerto desde 2019.
Reflexo de uma cidade que cresce sem qualquer planejamento, as enchentes se tornaram uma pedra no sapato de Colbert, que tanto prometeu as grandes obras de drenagem, mas pouco ou quase nada entregou. Toda a cidade se viu refém dos alagamentos, que trouxeram prejuízos financeiros, destruindo casas, arrastando veículos e deixando famílias desabrigadas.
Aguardado há anos, o Concurso Público do Município apresentou diversos indícios de irregularidades, e caminha para ser novamente alvo de investigação, assim como em 2018. O certamente tem recebido uma enxurrada de denúncias, inclusive sobre o não cumprimento dos dispositivos legais referentes à Lei de Cotas.
Apesar de Colbert, o mais otimista dos feirenses esperava, ao menos, uma saída digna do cargo. Com a época natalina, principal período para o comércio, a categoria recebeu um verdadeiro presente de grego. Ao invés da iluminação e dos enfeites, muitos funcionários iniciaram a semana mais esperada do ano tendo que retirar o lixo das portas das lojas, acumulados em virtude da paralisação da empresa Sustentare, após a Prefeitura não honrar os pagamentos.
O ditado “amigos, amigos, negócios à parte” parece não ser muito familiar a Colbert. No fim do mandato, e no apagar das luzes, o político resolveu agraciar os seus “amigos” com exonerações em massa, para que possam receber os “tempos”. Um deles foi o secretário Denilton Brito, que faturou cerca de R$ 70 mil. Isto mesmo com o Município em crise financeira. A atitude já gera um passivo de mais de R$ 300 mil, o que liga o alerta máximo para o sucessor, receoso em como encontrará os cofres públicos.
De malas prontas para deixar o Paço Maria Quitéria, caberá ao tempo dizer se o prefeito será esquecido tão facilmente da memória popular como foi “esquecido” pelo seu sucessor durante toda a campanha eleitoral. Colbert encerra o mandato saindo pela porta dos fundos, mas com a pretensão audaciosa de novamente ser deputado federal. Tem quem não queira o emedebista nem para síndico de condomínio. A aguardar as cenas dos próximos capítulos.