Feirense apresenta projeto ‘Dados de Feira’ em evento da Universidade de Londres, que discutiu inovações no combate à corrupção
Um projeto pioneiro em Feira de Santana ganhou o mundo. A engenheira de software Ana Paula Gomes foi convidada para apresentar o “Dados de Feira” na Universidade de Londres, em evento que discutiu maneiras de inovar no combate à corrupção.
O convite partiu de uma pesquisadora brasileira que integra o departamento de política da instituição inglesa, após mapeamento de diversas iniciativas de tecnologias cívicas encampadas por ativistas, que visam estimular a participação social nos bastidores das cidades.
O workshop teve como tema “Quando os cidadãos (re)agem? Inovações democráticas para combater a corrupção”, reunindo quatro ativistas do Brasil, entre eles a Ana Paula, apresentando as suas iniciativas e trocando experiências com outros profissionais do Reino Unido.
“Pela manhã, cada pessoa apresentou seus projetos. Eu apresentei o Dados Abertos de Feira, falei da cidade e da realidade local com a transparência. Depois discutimos os desafios que projetos de tecnologias cívicas encontram. Os maiores desafios são engajar as pessoas e levantar fundos pra manter os projetos funcionando”, relatou ao Blog do Velame.
Tendo como pilares a transparência e a acessibilidade aos dados públicos, a iniciativa “Dados de Feira” surgiu em 2019, como um espaço onde as pessoas possam buscar informações de maneira fácil sobre o município.
A inquietação em lançar o projeto veio após Ana Paula ouvir uma denúncia feita pelo jornalista Rafael Velame, em rádio, sobre a falta de merenda em algumas escolas da cidade. Ao acessar o portal da transparência de Feira de Santana se deparou com a dificuldade em fazer buscas na página de licitações. Apesar das solicitações à Prefeitura, não houve nenhuma resposta.
A programadora foi além e decidiu investigar também o site da Câmara Municipal. Para sua surpresa, informações básicas, a exemplo da assiduidade dos vereadores, não estavam disponíveis.
Após meses de espera sem retorno da Casa da Cidadania, o Ministério Público da Bahia (MP-BA) foi acionado para intermediar o processo. Desde então, o projeto ganhou projeção nas mídias locais e passou a contar com outros colabores, que se somaram ao objetivo de tornar acessíveis os dados públicos da Princesa do Sertão.
“Fazemos mais um trabalho de coletar os dados e disponibilizar, para que jornalistas, pesquisadores e cidadãos possam ter essas informações de maneira prática. Montamos um grupo interdisciplinar, com professores, advogados, administradores e jornalistas, atuando em bases de dados diferentes”, contou.
Entre os projetos de destaque estão uma investigação sobre o atraso no hospital de campanha e o porquê do local escolhido, além de uma análise das atas da Câmara, no início da pandemia, observando quais ações eram desenvolvidas pelos vereadores: “A gente viu que era muita conversa, mas poucas coisa era feira”, relata.
A partir do levantamento de boletins de ocorrências policiais, junto à Secretaria de Segurança Pública (SSP), também foi elaborado um mapa da violência urbana, que registrou o mapa de calor, observando a predominância dos locais que ocorriam, e as características dos envolvidos, como raça e gênero.
“O trabalho social que o Dados Abertos de Feira faz, através de Ana Paula e tantos outros voluntários, dos quais me incluo, é de extrema importância para cidade. É um projeto que vigia a aplicação e o uso do dinheiro público e isso impacta a vida do feirense, até mesmo daquele que nunca ouviu falar do projeto”, enalteceu o jornalista Rafael Velame.