Drama da educação em Feira vira manchete em rede nacional; escola que leva nome do pai de Colbert funciona em açougue

O sistema municipal de educação de Feira de Santana foi assunto em rede nacional nesta semana. Mas não por um bom motivo. A situação precária das escolas da cidade foi alvo de um longa reportagem investigativa feita pela repórter Pauliane Araújo, da Record TV, que expôs a ausência de professores, de funcionários e, até mesmo, de merenda.

Uma das pessoas ouvidas na matéria foi a professora Márcia Bispo, que confirmou a situação, ressaltando a importância da alimentação no ambiente escolar: “Eu sei que muitas vezes, os alunos, a única refeição que eles têm digna é a da escola. E, infelizmente, há muito tempo, esses alunos não estão tendo essa refeição que mereciam”, disse.

No Distrito de Jaguara, zona rural de Feira de Santana, muitos pais compartilham do sentimento de revolta. Para agravar a situação, o único colégio da localidade, que leva o nome do pai do atual prefeito Colbert Martins Filho (MDB), funciona onde era um açougue.

A sede da escola deveria ter ficado pronta em 5 de agosto de 2021, recebendo um investimento de R$ 1.637.898,06. Mas até o momento se encontra com obra parada. E quem sente na pele são os alunos, que precisam ser alocados em estruturas inadequadas ao aprendizado.

“Eu não aceito. Isso é uma vergonha onde ele colocou os nossos filhos. Onde antes era um mercado, um açougue, que vendia carne, e ele (Colbert Martins) cedeu para ser uma sala de aula para os nossos filhos”, desabafou a lavradora Vanice Santos.

Essa não é a única unidade municipal que vive em situação de abandono. A creche do bairro Asa Branca tinha previsão de ser concluída em 2019, também com investimento milionário. Além de impactar no atraso da iniciação educacional dos pequenos alunos, a realidade compromete a vida de muitas mães solo que dependem da creche para deixar seus filhos.

“Não tenho como trabalhar, porque ela (filha) não tem com quem deixar, fica longe de tudo, não temos parente perto para olhar para que eu possa trabalhar, então o jeito é ficar em casa, presa, sem trabalhar, cuidando dela”, relata a dona de casa Katiane Ramos.

Segunda cidade mais populosa do estado, Feira recebeu da União, via FUNDEF, a importância de R$ 248 milhões. 40% do valor deve ser usado pelo gestor para melhoria em estrutura na educação, enquanto os outros 60% deveriam ter sido repassados entre os professores.

Diretora do Sindicado dos Professores (APLB), Marlede Silva questiona essa conta que não fecha e impacta os profissionais: “Vários municípios já fizeram isso no Brasil todo, inclusive a rede estadual, em que o governador pagou a menos, sem o juros, mas pagou, e em Feira de Santana há uma resistência grande por parte do Governo Municipal de efetuar esse pagamento”.

Os professores da rede enfrentam o parcelamento dos vencimentos e muitos outros problemas. Na pandemia chegaram a ter 70% dos salários cortados até a volta das aulas presenciais, segundo a emissora. Por não terem muitos direitos respeitados, cerca de 400 profissionais chegaram a ocupar o Paço Maria Quitéria, em um episódio ainda muito presente na memória dos feirenses. Um ano depois, as reivindicações continuam presentes.

O prefeito Colbert Martins não respondeu a Record TV. Em nota, a Prefeitura se limitou a dizer que as aulas vão começar em 29 de março, e que as escolas devem receber os alimentos da merenda escolar a partir do dia 20. Na ocasião, afirma que autorizou os processos de licitação, para retomar as obras em quatro unidades de ensino que estão paralisadas.